Título: Carteiras conservadoras concentram captação no ano
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2008, EU & Investimentos, p. D2

Diante do ambiente de incertezas projetado para este ano, os investidores resolveram começar 2008 mais cautelosos. Relatório semanal do site financeiro Fortuna mostra que, entre as carteiras mais conservadoras, a captação soma R$ 8,766 bilhões - mais da metade do valor que ingressou no setor de fundos no ano, de R$ 16,669 bilhões, até o dia 10. A entrada de recursos nas categorias renda fixa, DI e curto prazo no período representa 52,6% do total captado pelo setor.

Os fundos DI lideram, com ingresso de R$ 5,376 bilhões no período. O total é ligeiramente inferior aos R$ 5,671 bilhões que foram para as carteiras voltadas ao poder público, onde somente estados e municípios podem aplicar. Já os fundos renda fixa que podem investir em títulos prefixados apresentaram captação de R$ 2,436 bilhões, até o dia 10. A categoria curto prazo, que aplica em papéis pós-fixados com vencimento em até 360 dias, recebeu R$ 954 milhões no ano. Em termos de retorno, os renda fixa apresentam ganho médio de 0,32% até o dia 10, percentual superior ao CDI do período, de 0,29%. Os DI têm rentabilidade média de 0,28% e os curto prazo, de 0,26%.

"Os investidores estão avaliando a consistência das estratégias de investimento e da performance dos gestores desses fundos antes de tomar suas decisões de investimento", diz o relatório do Fortuna. Prova disso é a captação dos multimercados. Campeões de audiência em 2007, até agora essas carteiras receberam meros R$ 59 milhões.

Só para se ter idéia, nesse mesmo período do ano passado, os fundos multimercados já haviam recebido R$ 1,210 bilhão, segundo dados do Fortuna, e encerraram o ano com captação de R$ R$ 34,463 bilhões. Mas a alta oscilação dos ativos no segundo semestre do ano passado trouxe perdas para boa parte dessas carteiras e, conforme os dados do Fortuna, 77% dos fundos multimercados perderam do CDI no segundo semestre de 2007. Até o dia 10, os multimercados registravam rendimentos médios de 0,34%, ante 0,29% do CDI.

A forte volatilidade do ano passado fez com que o investidor ficasse mais conservador neste início de ano, mas isso não deve reverter a tendência observada já em 2007 de busca por carteiras mais arriscadas, diz Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Investments. "A não ser que o mercado piore", ressalva o executivo. "Mas não será uma parada na queda da taxa de juros que irá reverter o processo de procura por mais risco, já que os juros continuarão em níveis baixos", avalia Ramos. Na opinião dele, a inflação também foi um dos componentes para esse conservadorismo. "A inflação afeta os juros futuros e o humor do mercado".

A curva atual dos juros mais que premia essa expectativa de alta inflacionária, diz Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Investimentos. "Não achamos que o processo inflacionário seja preocupante", afirma, mas, segundo ele, os juros futuros já trazem implícita uma alta a partir de março de 2,50 pontos percentuais. "Nesse nível, não é preciso achar que inflação vai ser muito baixa para aplicar em juros", diz. Mesmo assim, Figueiredo acredita que a inflação do IPCA andará abaixo da meta. Ele lembra que "estamos em ciclo fortes de investimentos produtivos que devem começar a entrar em atividade este ano e há alguns sinais pequenos de que a demanda interna está se acomodando", diz. Além disso, os preços das commodities alimentícias não deve ser tão pressionado este ano. "No ano passado, a alta média foi de 11% e, neste ano, deve ficar na média entre 5% e 6%". Figueiredo lembra ainda que a inflação já tem uma base maior, o que ajudaria a manter a alta mais modesta.

Muita da subida de juros ocorreu no fim do ano passado, especialmente em dezembro, quando os índices surpreenderam para cima, lembra Ilan Goldfajn, da Ciano Investimentos. As taxas futuras, porém, já embutem uma subida de 2 pontos percentuais para este ano, e as taxas já estariam portanto ajustadas ao novo cenário de inflação mais alta. "A notícia ruim deste ano já foi captada", afirma Goldfajn, acrescentando que a inflação não está em níveis assustadores. "Ela subiu e pode ser revertida facilmente, estamos em níveis de inflação muito diferentes dos que tínhamos no passado e hoje ela pode ser controlada de uma maneira relativamente mais fácil", diz. Ele lembra que boa parte da pressão inflacionária veio de fora, dos preços dos alimentos, e que esse ponto terá de ser acompanhado de perto. "Se tivermos uma desaceleração nos EUA que leve a um desaquecimento da economia mundial, a inflação fica menos pressionada", lembra.

Por essa incerteza, Goldfajn diz que o mercado atual "é para profissionais e vai ser mais importante o 'timing' das estratégias de investimento. Ele aposta em um segundo semestre melhor, com ganhos especialmente para a bolsa, não tão altos quanto os do ano passado, mas acima dos da renda fixa. "Mas teremos mais riscos também", lembra.

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) ainda tem bastante juro para cortar e com isso a economia americana poderia retomar o crescimento aos poucos, avalia Eduardo Penido, sócio diretor da Opportunity Asset Management. "Além disso, é ano eleitoral nos EUA, o que também ajuda a economia", lembra ele. Penido diz que é otimista com o Brasil e que há muito prêmio nas aplicações. "Mas o risco existe, especialmente lá fora, apesar de o Brasil estar mais preparado para enfrentar uma eventual desaceleração mundial."

Apesar do cenário incerto, alguns investidores mantêm suas apostas nos fundos de ações. Mesmo com uma perda média de 3,18% dessas carteiras até o dia 10, ante um Ibovespa em queda de 0,58% no período, a categoria continua recebendo recursos e registra captação de R$ 849 milhões. (Colaborou Angelo Pavini)