Título: Fundos preferem aplicar no Brasil
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2008, Finanças, p. C1

Em meio ao turbulento cenário do mercado financeiro internacional, o Brasil virou prioridade para os fundos de private equity (carteiras especializadas em comprar participação em empresas). Uma pesquisa da KPMG feita este mês com gestores e investidores destes fundos mostra que o país é a primeira opção de investimento quando se pensa em América Latina para 42% dos entrevistados, bem a frente do México, com 34%.

Com o reaquecimento da economia, os fundos de private equity (também conhecidos como fundos de participação) estão de olho principalmente no setor de infra-estrutura, mercado de consumo e energias alternativas. Foram estes segmentos, nesta ordem, os apontados pelos executivos como os mais promissores.

Estimativas do Centro de Estudos de Private Equity da Fundação Getúlio Vargas (GV-Cepe) apontam que os fundos de private equity têm nada menos que US$ 16,72 bilhões de capital comprometido para investir no país. Em 2004, último ano em que o Cepe havia feito este tipo de levantamento, o capital comprometido era de apenas US$ 5,58 bilhões.

"O ambiente continua favorável para o Brasil", avalia o gestor Sidney Chameh, sócio da Decisão Gestão de Fundos (DGF) e conselheiro da ABVCap (a associação dos gestores dos fundos). Entre as últimos grandes carteiras que anunciaram aplicações no Brasil está a gestora Blackstone, uma das maiores do mundo. No final de janeiro, anunciou que vai trazer US$ 500 milhões ao país, em um fundo conjunto com a Pátria Investimentos, com capital total de US$ 675 milhões.

Nem mesmo a crise do mercado de crédito imobiliário americano, que vem provocando forte volatilidade das bolsas mundiais, parece estragar os planos dos gestores. A pesquisa da KPMG revela que somente 21% dos entrevistados esperam "impacto significativo" da crise no setor. Outros 55% esperam "algum impacto".

Carlos Simões, sócio responsável pela área de private equity da KPMG Brasil, e um dos responsáveis pela pesquisa, fala que uma das preocupações dos gestores é com relação a maior dificuldade em levantar recursos com investidores americanos. Por isso, os fundos vêm progressivamente diversificando as fontes de captação, buscando recursos na Europa e na Ásia. Os investidores americanos, que chegaram a representar 50% das fontes de captação em 2005, devem cair para 41% este ano. Já os europeus subiram de zero em 2004 para 13% agora. A pesquisa ouviu 140 gestores e investidores durante uma conferência mundial do setor de private equity em Miami, no início do mês.

"Os investidores permanecem preocupados, porém não em demasia, principalmente devido à farta disponibilidade de recursos para empresas de pequeno e médio porte, que constituem o grosso de suas carteiras, e também porque a dívida subprime não representa um fator importante na região", avalia Simões.

Mesmo que a torneira não se feche completamente, os fundos devem captar menos este ano, depois dos recordes históricos de 2007. A maioria dos gestores (61%) acredita que os recursos levantados em 2008 serão inferiores aos do ano passado. É a primeira vez que isto acontece. Em edições anteriores da pesquisa, sempre se esperava uma captação maior. "Depois de um período intenso de aumento da oferta de capital, que não se via na região desde os anos 90, os gestores devem agora se preocupar em colocar o capital para girar", afirma Simões. Como consequência, 2008 deve ser um ano em que os fundos vão investir mais que captar.

Só no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou em 2007 a criação de fundos de R$ 22 bilhões em patrimônio. Este ano, já aprovou cinco fundos com R$ 427 milhões.

Para Chameh, da DGF, os investidores estão "mais preocupados e seletivos" e dificilmente a euforia de 2007 deve se repetir. Algumas empresas, que poderiam receber recursos dos private equities, foram para a bolsa, diz ele, com pouco ou nenhum planejamento, apenas por que havia liquidez no mercado. Para este ano, a DGF resolveu apostar no mercado de etanol. A gestora está lançando um fundo que pode ter até R$ 200 milhões para aplicar neste mercado.