Título: Demissão de sete funcionários da Codesp pode parar porto de Santos
Autor: Rodrigues, José
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2008, Brasil, p. A2

A demissão sem justa causa de sete funcionários do porto de Santos, considerada inédita nas três últimas décadas, provocou reação dos sindicatos dos trabalhadores, que ameaçam com uma greve geral, a partir da próxima semana. Uma assembléia hoje à noite, com a participação de pelo menos 11 entidades ligadas direta e indiretamente às atividades portuárias, deve decidir sobre os rumos do movimento.

A decisão das demissões foi tomada pela nova diretoria da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), estatal federal que administra o porto, no cargo desde setembro de 2007, sob a alegação de que "se trata de um ajuste pontual de caráter administrativo", segundo o presidente da empresa, José Di Bella Filho. Entre os funcionários atingidos estão dois engenheiros, um advogado e pessoal administrativo, todos com cerca de 30 anos na empresa.

A Codesp conta com um quadro de 1.340 funcionários e mais cerca de 800 terceirizados. Como empregadora, transformou-se, ao longo do tempo, numa das mais atraentes da região, pagando salário médio mensal de R$ 4.600,00, com o mínimo de R$ 800,00 e o máximo de R$ 13.100,00, em valores brutos.

Segundo Everandy Cirino dos Santos, presidente do sindicato da administração do porto, o Sindaport, "apesar do presidente da Codesp, José Di Bella Filho, afirmar que não haverá mais demissões, o clima de terror continua na empresa". Ele acrescenta que "alguns funcionários demitidos foram informados de que não atendem ao novo perfil da empresa". Porém, pergunta, "se a Codesp não fez a reestruturação, qual será esse novo perfil?"

Por práticas históricas, a estatal do porto demitiu centenas de funcionários mediante acordos, todos com incentivos, inclusive para aposentadorias. Entre esses acordos vigora um que garante complementação salarial para admitidos até o ano de 1965.

Os remanescentes com muitos anos de casa, costumam aguardar novos planos, o que não tem acontecido. Tornada moeda de troca partidária, a empresa mantém um quadro em geral desmotivado, que assiste às rotineiras mudanças de dirigentes de seus vários escalões em seguida a cada eleição.

Segundo uma fonte da empresa, está em estudos uma contratação, mediante concurso público, de cerca de mil funcionários, que também substituiriam parte dos atuais terceirizados. "Mas de nada adianta contratar novos se não houver mudanças estruturais internas", disse.

Dada à envergadura econômica da Codesp, a posição dos sindicatos tem recebido apoio de todas as facções políticas regionais, que fazem gestões em várias instâncias, até junto ao governador José Serra, para reverter as demissões.