Título: Reservatórios do Sul e Sudeste atingem capacidade mínima
Autor: Rittner, Danie
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2008, Brasil, p. A3

Apesar das chuvas fortes nos últimos dias, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste atingiram na quarta-feira o nível mínimo para a operação com plena segurança do sistema elétrico. Estão com apenas 44,8% de sua capacidade máxima e precisam chegar ao fim de abril com 68% de armazenamento para enfrentar o período seco. Só neste mês, os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste perderam 1,3 ponto percentual do volume de água. Com isso, o governo decidiu manter ligadas as termelétricas movidas a óleo durante o mês de fevereiro, além de desviar o gás usado em consumo próprio da Petrobras para ativar a geração de energia em outras usinas.

A definição ocorreu na reunião de ontem do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), com representantes dos principais órgãos da área. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, não participou - está em férias. O ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner, transferirá o cargo ao senador Edison Lobão (PMDB-MA) segunda-feira, após oito meses de interinidade. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Hubner poderá assumir nova função no governo - não disse qual - depois de período de descanso.

Em tese, o fato de os reservatórios alcançarem a "curva de aversão ao risco" (CAR) - nível mínimo de armazenamento recomendável - não significa a iminência de um apagão, mas que todas as fontes de geração de energia, não importa o preço, devem ser acionadas para evitar um risco muito grande mais adiante.

A curva - ou seja, como devem comportar-se os reservatórios ao longo de cada período de dois anos - é sugerida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e aprovada pela Aneel. No mês passado, Kelman foi o único diretor da agência reguladora que votou contra uma nova proposta do ONS, que diminuía o nível mínimo de armazenamento no início do ano. Mesmo assim, contrariando as expectativas do governo, esse número foi atingido antes do término de janeiro.

Em entrevista ontem, Hubner disse que as térmicas a óleo vão continuar operando em fevereiro e as usinas a gás serão acionadas durante todo o ano para poupar os reservatórios. "Mesmo a meteorologia apontando para uma melhora significativa, manteremos a operação do maior número possível de térmicas. Preferimos trabalhar com a visão da segurança", afirmou o ministro.

Parte do gás usado hoje nas refinarias da Petrobras será repassado às termelétricas. Isso permitirá uma geração adicional de 750 megawatts (MW), segundo cálculos do ministério. O governo também aposta na entrada em operação do gasoduto Cabiúnas-Vitória, que permitirá o uso de 5,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia para abastecer a usina Macaé Merchante, no Rio, com quase 1.000 MW de potência. Outras perspectivas são de regaseificação de gás natural liqüefeito (GNL) no Ceará e no Rio.

Na quarta-feira, segundo relatório diário divulgado pelo ONS, seis térmicas a gás produziram menos do que o pedido pelo operador. Em cinco delas - Norte Fluminense, Aureliano Chaves, Mário Lago, Barbosa Lima Sobrinho e Fernando Gasparian - houve "menor disponibilidade" ou "indisponibilidade" de gás.

Sem levar em conta as usinas nucleares de Angra I e II, as térmicas produziram 4.711 MW médios na quarta-feira, o que corresponde a 7,7% de toda a geração de energia no país. Na semana passada, o governo já havia decidido acionar 800 MW de termelétricas a óleo combustível, a fonte mais cara e poluente. Esse montante deverá subir para até 1.255 MW em fevereiro, ligando outras usinas, como a Termo Cuiabá. A térmica mato-grossense é biocombustível e deixou de operar recentemente por falta de gás da Bolívia, que cortou o fornecimento.

Em um primeiro momento, a Termo Cuiabá produzirá 150 MW, com dois caminhões por hora para garantir o suprimento. Outra medida anunciada foi a previsão de leilões de energia para contratar térmicas que funcionarão como uma espécie de reserva para o setor elétrico: elas só entrarão em operação em caso de escassez de chuvas ou problemas nas outras usinas..