Título: Dilma é cobrada em reunião do Conselho Político
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2008, Politica, p. A9

A reunião do Conselho Político marcada para ontem serviria para a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, apresentar aos líderes e presidentes dos partidos aliados detalhes sobre as obras do PAC. Mas acabou se transformando em algo constrangedor para a ministra: pelo menos dois líderes procurados pelo Valor deixaram o encontro mais cedo, alegando questões de agenda, mas reconhecendo que estavam diante de uma exposição enfadonha, repetida. Mas o momento mais embaraçoso veio no final, quando o vice-líder do governo na Casa, Beto Albuquerque (PSB-RS) pediu a palavra e reclamou que os aliados "foram ao encontro também para falar, não apenas para ouvir".

Beto não quis comentar o caso, mas parlamentares presentes confirmaram o desentendimento entre o pessebista e Dilma, que foram colegas no secretariado do governo do Rio Grande do Sul.

O líder governista reclamou da ausência de investimentos do PAC em 2008 na BR 392, que liga Pelotas ao Porto de Rio Grande - este último alvo de R$ 500 milhões de investimentos do PAC. Para Beto, é impensável a não-duplicação da BR que desemboca no principal porto do Cone Sul.

Dilma retrucou, afirmando que a legislação impede investimentos públicos em rodovias concedidas - com cobrança de pedágio. A BR 392 virou uma concessão ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando o ministro dos Transportes era o gaúcho Eliseu Padilha. Beto discordou da ministra. Relatou consultas feitas ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Técnicos da ANTT teriam mostrado um acórdão - 599/2005 - afirmando não haver qualquer impedimento de investimentos públicos em estradas sob concessão federal.

Segundo relato dos presentes, Dilma não se convenceu e deu claros sinais de que não gostaria de prosseguir discutindo o assunto. Beto reclamou a alguns dos seus pares e pessoas do partido de que, constantemente, existem "problemas de interlocução entre a base do governo e a cúpula do governo". Beto teria dito, inclusive, que, se essa situação acontecia com ele, vice-líder do governo e companheiro de secretariado gaúcho de Dilma - ele era secretário dos Transportes e ela, de Energia durante o governo petista de Olívio Dutra - quem dirá com outras pessoas com relacionamento político mais distante.

No meio da tarde, Dilma chamou Beto Albuquerque para o Planalto para conversar. Procurado pelo Valor, Beto não retornou as ligações. O encontro durou aproximadamente uma hora.

Outros parlamentares preferiram deixar a reunião com Dilma antes do término. É o caso do líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR). "Eu tinha uma agenda a cumprir e a apresentação da Dilma estava muito longa, demorada. Ela faz questão de explicar tudo, detalhe por detalhe", reclamou ele, que teve de deixar a apresentação para prestigiar a cerimônia de assinatura das concessões das rodovias - o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, é presidente licenciado do PR. Já o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA) também saiu mais cedo, mas levou o balanço em papel e em DVD "para assistir com mais calma em casa depois".