Título: Pressionado, Bush alinha seu plano anti-recessão
Autor: Lueck, Sarah, McKinnon, John D, Phillips , Michae
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2008, Especial, p. A12

AP O presidente do Fed, Ben Bernanke, durante audiência no Congresso: "Plano de estímulo de US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões seria bastante razoável" O Congresso dos EUA e o presidente George W. Bush aceleraram negociações para um pacote de estímulo à economia, impulsionados pela deterioração do panorama econômico, queda nas bolsas e crescente sensação de insegurança financeira dos americanos.

Espera-se que Bush exponha os princípios do pacote hoje. O plano provavelmente incluirá uma restituição extra de imposto de renda ao redor de US$ 500, para pessoas físicas - que pode mesmo incluir famílias isentas -, e incentivos fiscais para encorajar empresas a comprar novos equipamentos. O que não deve ser incluído é uma extensão dos cortes de impostos tão queridos do presidente, porque isso poderia criar um impasse entre os partidos.

Líderes parlamentares, incluindo Nancy Pelosi, a democrata que preside a Câmara dos Deputados, já falaram sobre arrematar os detalhes do pacote na semana em que o presidente faz seu discurso anual sobre o Estado da União, que este ano cai no dia 28 de janeiro. Também estão na lista dos democratas: benefícios de desemprego mais longos e expansão do programa de vale-refeição e de um crédito fiscal especial do IR que beneficia pessoas de renda mais baixa.

O entusiasmo tem origem, em parte, na preocupação dos parlamentares - especialmente do Partido Republicano -, vários dos quais retornaram de um ligeiro período de férias no fim do ano quando levaram vários puxões de orelha de seus eleitores. Isso criou um clima político inusitado em Washington, onde a inércia e picuinhas partidárias predominaram nos últimos 12 meses.

Nenhum dos dois partidos, o Democrata, de oposição, ou o Republicano, quer ser visto como obstáculo a um acordo em torno de um pacote. Eles temem atrair a ira de eleitores preocupados com a queda do valor de suas casas, a alta do desemprego e os altos preços de saúde e de combustível.

"Embora esta não seja tecnicamente uma recessão, certamente parece uma", disse o deputado republicano Phil English num recente debate sobre a economia. Seu distrito, no Estado da Pensilvânia, é uma de várias áreas metropolitanas dos EUA que já parecem estar em recessão, segundo análise de Mark Zandi, economista chefe da Economy.com, da Moody's.

A magnitude da frustração dos eleitores com a economia e a inércia do Congresso está forçando ambos os partidos a deixar de lado o instinto de briga política que é comum em anos de eleição, como este. "O futuro é tenebroso", disse o deputado democrata William Lacy Clay. Ele disse que foi abordado por pessoas num supermercado e em eventos de campanha para pedir ação. "Minha esperança é que respondamos logo."

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Ben Bernanke, deu força ao movimento ao avalizar a idéia de que a economia talvez precise de uma injeção de adrenalina. Em depoimento ao Comitê de Orçamento da Câmara dos Deputados, ele disse que o estímulo fiscal "poderia ser, em princípio, útil" e que reforçaria o corte nos juros, mas advertiu que "a elaboração e implementação" são "extremamente importantes". Bernanke disse que não prevê - pelo menos por enquanto - recessão, mas vislumbra uma economia "que cresce a um ritmo relativamente lento" este ano.

Ainda há a chances de que um acordo seja afundado por disputas políticas. Os democratas saíram de uma teleconferência entre a Casa Branca e líderes do Congresso irritados com a maneira pela qual as coisas estavam evoluindo. Especificamente, irritavam-se com o fato de que Bush está revelando algumas de suas propostas antes de se reunir com líderes parlamentares para chegar a um acordo, segundo assessores no Congresso. Eles também se queixam do foco dele em impostos em vez consumo. Uma pessoa a par da questão descreveu a teleconferência como "perfunctória".

Num comunicado por escrito, o líder da maioria no Senado, Harry Reid, disse estar "decepcionado" por Bush estar "rejeitando um pedido de líderes de ambos os partidos e de ambas as Casas para trabalhar conosco diretamente para desenvolver um pacote bipartidário, em vez de detalhar unilateralmente sua própria estratégia sem influência do Congresso".

Segundo a porta-voz da Casa Branca Dana Perino, Bush compartilhou suas idéias e ouviu as dos parlamentares. Mas os contornos exatos de um pacote final ainda precisam ser negociados. Uma decisão fundamental é quem recebe os cheques de restituição. Os democratas podem tentar excluir os contribuintes de renda mais alta. Os republicanos poderiam tentar excluir quem não paga nenhum imposto. E não está claro como o Senado vai reagir a essas idéias.

Mas um enorme obstáculo foi removido quando a Casa Branca indicou que aceitaria uma proposta que não torne permanentes os cortes de impostos feitos por Bush, ainda que eles tenham sido uma parte importante de sua agenda econômica. Eles expiram em 2010.

Os democratas haviam deixado claro anteriormente que uma medida desses mataria qualquer acordo. Líderes republicanos indicaram que vão continuar a pressionar por essa mudança, mas que não o farão como condição para apoiar o pacote de estímulo. "Eu certamente seria a favor disso", disse Eric Cantor, de Virgínia, que é um dos líderes republicanos na Câmara dos Deputados.

"O presidente vai continuar a pressionar por fazer com que seus cortes de impostos se tornem permanentes", disse outro porta-voz da presidência, Tony Fratto. "Contudo, a teleconferência de hoje e os comentários de amanhã serão a respeito de um pacote imediato e eficaz de crescimento. O presidente apóia a extensão permanente de seus cortes de impostos, e ele apóia o pacote de curto prazo para o crescimento, mas eles são coisas separadas."

Democratas no Congresso sugerem que estariam dispostos a suspender suas regras de contenção de déficit orçamentário e concordar com incentivos fiscais sem definir maneiras de compensá-los. E indicaram disposição de acrescentar alguns incentivos para empresas, uma bandeira tipicamente republicana em pacotes de estímulo econômico. No crescente fervor por um pacote, as estimativas de seu custo para o governo estavam chegando a US$ 150 bilhões.