Título: Oferta pela Xstrata vai ao conselho da Vale
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2008, Empresas, p. B9

O conselho de administração da Vale do Rio Doce deve se reunir na próxima semana para tomar conhecimento dos números que envolvem a operação Xstrata e decidir sobre a oferta de compra a ser feita pela companhia brasileira, apurou o Valor.

A partir da decisão de seus acionistas controladores, que ocupam a maioria dos onze assentos de titulares do conselho, presidido por Sérgio Rosa, presidente da Previ, a diretoria da Vale pode trabalhar com mais conforto uma proposta formal pela mineradora anglo-suiça, a ser levada ao Takeover Panel do Reino Unido até 21 de março.

Enquanto persiste a incerteza sobre a decisão dos acionistas da Vale, a Glencore, controladora da Xstrata, tenta elevar o valor de seus 35% na empresa. Essa estratégia busca pressionar a Vale a fazer uma oferta maior que a informal de US$ 76 bilhões, avaliam especialistas do setor. Na quarta-feira circulava no mercado que a Glencore recebeu uma oferta de 48 libras por ação da Xstrata para vender suas ações. Rumores indicavam tratar-se de um grupo chinês.

Eduardo Roche, do Modal Asset Management e Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora acreditam que a Vale vai formalizar uma proposta de compra. "Pode fazer parte do processo de assédio jogar a oferta um pouco para baixo", disse Roche. Para Ferraz, "a Vale vai fazer a oferta que ela ainda não fez, mas não vai poder esticar muito além de 40 libras por ação. O risco, neste caso, supera os possíveis ganhos".

Para Roche, US$ 90 bilhões pode ser a meta com a qual a Vale vem trabalhando na negociação. "Pode ser que convirja para isto". Mas, US$ 95 bilhões (50 libras a ação), seria "um preço muito salgado". Ele leva em conta que parte da estrutura de pagamento será feito em ações preferenciais (PNA), o que garante o grau de investimento da Vale. "Se a Glencore aceitar PNA, sem direito a voto e de receber o mesmo que os detentores de ON no caso de venda da empresa) será um bom negócio".

A inclusão de ações PNA no pacote da oferta à Xstrata vai abrir espaço para a Glencore ter um assento no conselho da Vale. Pela Lei das S/A brasileira o acionista que tiver 10% do capital total de uma empresa, com ações com direito a voto, mesmo que não faça parte do grupo controlador, tem direito a eleger um membro para o conselho de administração da empresa. No caso da Vale, as PNA têm direito a voto, o que é diferente de participar do bloco de controle da Valepar, composto por Previ e outros fundos, BNDES, Bradespar e Mitsui.

O possibilidade de vir a se tornar acionista da Vale é um grande atrativo para a Glencore aceitar nova proposta da companhia brasileira, mesmo que seja abaixo de suas expectativas. Como trading, a controladora da Xstrata persegue a estratégia para garantir o direito de comercialização de parte ou da totalidade dos produtos da empresa em que ela venha a participar.

Segundo um executivo do setor de mineração, com larga experiência nos mercados em que a Glencore opera, a empresa pode eventualmente trocar o controle da Xstrata por uma participação reduzida numa empresa maior, mas não deixaria o mercado de commodities.

A decisão do conselho da Vale deverá refletir certamente o ponto de vista do governo sobre o negócio, já que Previ e BNDES integram o conselho. Analistas do UBS estimam que se a Vale desistir de fazer uma proposta formal pela Xstrata as ações da mineradora anglo-suiça poderão despencar cerca de 20% no mercado.

Ontem, as ações da Vale caíram na Bovespa. A ON teve queda de 0,84% sendo cotada a R$ 56,31 e a PNA caiu 0,83% fechando em R$ 47,42. Já o papel da Xstrata, em Londres, subiu 1,9%, sendo cotado a 38,52 libras.