Título: Anglo American põe US$ 7 bi no país
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2008, Empresas, p. B1

Em menos de um ano à frente da Anglo American, uma das maiores mineradoras do mundo, Cynthia Carrol sacudiu a companhia. Acelerou o redirecionamento estratégico do grupo, iniciou a venda de ativos fora do foco de negócios, casos de papel e embalagens e materiais de construção, e anunciou vários novos investimentos. Somente no Brasil, no negócio de minério de ferro, são quase US$ 7 bilhões com o acordo de negociação para compra dos dois mais importantes ativos da MMX, de Eike Batista.

A operação anunciada ontem, cujo valor chega a US$ 5,5 bilhões, envolve o controle total de dois projetos: Minas-Rio e Amapá. Juntos, as duas minas estão desenhadas para fazer mais de 30 milhões de toneladas de minério de ferro em 2011.

Isso significa dobrar a atual produção do grupo, de 31 milhões de toneladas, obtida na África do Sul. A Anglo American detém 65% do capital da Kumba Iron Ore, adquirida em 2003. A aquisição marcou sua entrada no negócio de minério de ferro, cujos preços já triplicaram desde aquele ano, com forte impulso da demanda chinesa.

"Esses dois projetos estão em grande sintonia com a estratégia da Anglo American e, juntamente com as expansões de Kumba, irão aumentar significativamente nossa participação no mercado de minério de ferro transportados por via marítima a aproximadamente 150 milhões de toneladas por ano até 2017", afirmou, em comunicado, Cynthia Carrol. Segundo a executiva, que veio da canadense Alcan e assumiu a Anglo em 1º de março de 2007, o grupo "continuará avaliando a potencial expansão substancial desses projetos". Segundo ela, há expectativas bastante positivas no longo prazo para minério de ferro.

"Para a Anglo, essa aquisição é de grande importância", diz o engenheiro metalúrgico Alexandre Gomes, 49 anos, executivo escolhido para presidir a divisão de Metais Ferrosos do grupo no Brasil desde julho de 2007. "Das três grandes mineradoras mundiais, era a única que não tinha forte presença em minério de ferro. E para estar nesse negócio, tem de estar no Brasil, que detém reservas de qualidade", afirmou Gomes, que trabalhou cinco anos no Canadá e três e meio na China pela Alcan.

No Amapá, o sistema integrado de mina de ferro, ferrovia e porto, já iniciou operações em dezembro de 2007 e a previsão para este ano é de produzir 4,8 milhões de toneladas. A partir de 2009, a operação local vai atingir a plena capacidade, de 6,5 milhões de toneladas. Há informações da MMX que previam a duplicação da capacidade da mina no futuro. A Americana Cleveland-Cleffs detém participação de 30% da mina.

O sistema Minas-Rio, está em fase de avaliação de reservas, em Minas Gerais, obtenção de licenças ambientais e construção de mineroduto 525 km até o porto de Açú (RJ). A produção na primeira fase deve iniciar-se em 2009, alcançando o auge de 26,5 milhões de toneladas em 2011. Há planos para duplicação desse volume. A Anglo já detém 49% desse projeto, participação pela qual pagou US$ 1,2 bilhão em 2007.

Para especialistas, a Anglo levou os ativos mais atrativos de minério de ferro da MMX e de maior porte. Na operação anunciada ontem, a companhia manteve sua participação de 49% na empresa de logística LLX Minas-Rio, que engloba a área do porto de Açu reservada para construção do terminal portuário de minério de ferro. A MMX manteve o controle com 51%.

O acordo firmado, de negociação exclusiva, prevê a compra de 63,6% das ações de Eike Batista na nova empresa, "Newco", que passará a controlar os ativos Minas-Rio e Amapá. Comprará também 4,4% de seus executivos e, numa segunda etapa, 32% dos minoritários, em oferta pública de ações. A "Newco" é resultante da reestruturação dos ativos de mineração e logística da MMX.

No Brasil, onde atua desde os anos 70, a Anglo American fatura quase US$ 1 bilhão, produzindo níquel, nióbio e fertilizantes. No mundo, o grupo produz metais não ferrosos, platina, carvão, minerais e metais industriais. A receita anual é da ordem de US$ 33 bilhões.