Título: Construtoras unificam compras e reduzem custos
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2008, Empresas, p. B6
Sem o mesmo poder de barganha das grandes construtoras, a maior parte delas capitalizada por emissões bilionárias de ações ao longo deste ano, as pequenas e médias empresas do setor no Rio Grande do Sul decidiram reunir-se em uma cooperativa para ganhar escala e negociar em melhores condições com os fornecedores. O grupo já fez uma compra conjunta de um lote de 115 elevadores e agora prepara uma concorrência para adquirir 30 mil portas e também o início das importações de produtos da China a partir de 2008.
Organizada em torno do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), a Coopercon-RS já obteve a adesão de 65 empresas e pretende chegar a 100 ao longo de 2008, explica o presidente da cooperativa, Mauro Touguinha de Oliveira. De acordo com ele, que também é vice-presidente do Sinduscon-RS, iniciativas similares já existem ou estão em implantação em Estados como Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina e no Distrito Federal, com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
A primeira operação organizada pela cooperativa gaúcha foi de elevadores fabricados pela Atlas Schindler, que tem unidade em Londrina (PR). Participaram 22 associadas, que adquiriram as 115 unidades por R$ 9,1 milhões, com uma economia estimada entre 10% e 12%, revela o empresário. Além do preço, o grupo obteve vantagens como manutenção grátis por seis meses após a instalação e financiamento corrigido pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), o mesmo aplicado nas vendas dos imóveis, para evitar o descasamento entre custos e receitas das construtoras.
Segundo Oliveira, a negociação foi importante porque os elevadores podem representar até 5% do custo de uma obra. "Um conjunto de 20 itens, incluindo os elevadores, aço, concreto e esquadrias, equivale a 85% dos custos de uma construção", explica. É sobre este pacote que a Coopercon-RS pretende focar o trabalho, incluindo o desenvolvimento de padrões específicos para cada linha com a finalidade de facilitar as aquisições em grandes volumes.
Além de garantir custos mais competitivos, a união das construtoras melhora as condições de acesso a produtos e serviços que começam a escassear com o crescimento explosivo do setor no país, afirma o empresário. De acordo com ele, a Coopercon-RS está negociando com fornecedores locais a locação de andaimes para obras e também avalia a aquisição de insumos estratégicos como aço e cimento fora do país em conjunto com cooperativas de outros Estados.
Da China, o grupo pretende importar itens para acabamento (pisos e revestimentos), louças e metais sanitários a partir de março de 2008. Diretores da cooperativa gaúcha já visitaram a feira de Cantão, em outubro, e verificaram que materiais de porcelanato adquiridos no Brasil por R$ 90 a R$ 100 o metro quadrado podem ser importados diretamente de fornecedores chineses por R$ 25 a R$ 26. Hoje os próprios fabricantes brasileiros trazem os produtos da China e os revendem aqui com marca própria, explica Oliveira.
Em janeiro a cooperativa também deve lançar uma concorrência para comprar 30 mil portas completas. Serão encomendados quatro modelos de produtos com uma programação de entrega de seis a 12 meses. Oliveira não arrisca o tamanho da economia possível para as empresas nesta operação, mas acredita que ela poderá ser maior do que a obtida na aquisição dos elevadores. De acordo com o presidente, embora o foco da cooperativa seja as pequenas e médias empresas, não há veto à adesão de grandes construtoras.