Título: Descontentamento tucano levou à derrota serrista
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2008, Politica, p. A11

Por mais que o governador José Serra tenha pessoalmente procurado se manter afastado da disputa, o serrismo perdeu com a eleição do deputado José Aníbal para líder do PSDB na Câmara. É também uma simplificação excessiva colocar a disputa de Aníbal com o deputado Arnaldo Madeira, também de São Paulo, como o primeiro confronto de uma longa competição entre Serra e o governador mineiro Aécio Neves pela indicação tucana à Presidência da República, em 2010. Soa mais heterodoxa uma aliança PT-PSDB nas eleições municipais de outubro, em Belo Horizonte, do que a reedição da aliança tucano-democrata para a Prefeitura Municipal de São Paulo.

Serra não se envolveu diretamente na disputa entre Aníbal e Madeira na bancada de 58 deputados tucanos, vencida por Aníbal por 36 a 22, placar surpreendente mesmo para o vitorioso. O governador paulista alegou que se envolvera na eleição do líder que ontem passou o bastão, Antonio Carlos Panunzzio (SP), e que isso não fora bom. Mas é fato que o vice-governador Alberto Goldman e o secretário Aloysio Nunes Ferreira deixaram impressões digitais em todos os corrimões e gabinetes da Câmara. Eles e o ex-líder Jutahy Magalhães (BA), outro ícone do serrismo.

O grupo serrista, por exemplo, cambiou a vaga de um deputado suplente para que o titular Walter Feldmann, secretário de governo em São Paulo, pudesse votar em Brasília em Arnaldo Madeira, deputado que foi líder do governo na Câmara. Esperava-se que Aécio Neves fizesse o mesmo em relação ao deputado Custódio de Matos, mas ele permaneceu em Belo Horizonte. Era a maneira do governador demonstrar que não se envolvera na disputa, além de viajar para fora do país. Na realidade, botou um pé em cada canoa. Na conta de deputados mineiros, o placar no Estado foi de 3 a 3; nas de Aníbal, 4 a 2 a seu favor.

A rigor, a vitória de José Aníbal começou como uma manifestação anti-Serra, pelos tucanos paulistas que se sentem isolados pelo governo estadual. Mas logo a candidatura foi abraçada pelos novos deputados do PSDB, em todos os estados, e por aqueles que, como os novatos, se sentiam discriminados pelo grupo que há vários anos controla a liderança na Câmara, simbolizados na dupla Jutahy-Panunzzio, sem participação efetiva nas tarefas congressuais ou direito a voz nas decisões do partido. Grupo integrado também por deputados ligados a Aécio, aliás, como Nárcio Rodrigues (MG), 1º vice-presidente da Câmara.

O exemplo mais enfático do descontentamento dos deputados, talvez, tenha sido a decisão dos senadores de conversar com o governo para aprovar a CPMF - uma idéia apoiada por Serra -, depois que a Câmara havia rejeitado o projeto. Isso sem que nenhum deles tivesse sido ouvido. Há queixas também sobre o comportamento dúbio da cúpula tucana em relação ao PT, o que inclui as conversas de Aécio Neves com Fernando Pimentel (PT) em torno da prefeitura de Belo Horizonte. Em ano eleitoral, quando os tucanos acreditam que enfrentarão uma disputa duríssima nos municípios, os deputados querem, antes de tudo, um discurso de afirmação do PSDB, em primeiro lugar.