Título: CVM amordaça envolvidos
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2011, Economia, p. 16

Órgão que regula o mercado financeiro proíbe BTG Pactual, Caixa e FGC de se pronunciarem sobre o negócio A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado financeiro, proibiu que BTG Pactual, a Caixa e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) se manifestem sobre a concretização do processo de compra do PanAmericano, vítima de escândalos que obrigaram o apresentador Silvio Santos a se desfazer do controle acionário. O motivo, segundo fontes próximas a essas instituições, é a divulgação de cálculos desencontrados sobre o tamanho do rombo e o montante da ajuda necessária para sanear as contas em aberto. As especulações, que causaram forte corrida em busca dos papéis do banco, podem prejudicar os investidores e, se for comprovado o uso de informação privilegiada, o negócio pode ser cancelado.

O valor real da fraude contra a empresa do dono do Baú da Felicidade, que há anos vem sendo sorrateiramente perpetrada ¿ apesar de não ter sido rapidamente identificada nem pelo Banco Central, nem pelas mais importantes empresas de auditoria ¿, só será conhecido depois da publicação do balanço.

Rombo A divulgação, no entanto, já foi adiada por vários dias, o que se tornou mais um fator de desconfiança para a CVM. Em princípio, o rombo seria de R$ 2,5 bilhões. Pouco depois, o cálculo do mercado subiu para R$ 3,8 bilhões.

O mais curioso é que o BTG Pactual iria pagar, inicialmente, apenas os R$ 450 milhões emprestados pelo FGC. Caixa e BTG Pactual, em seguida, prometem agora desembolsar R$ 14 bilhões, juntos, para sanear o PanAmericano, mas em doses desiguais, embora tenham quase idêntica participação acionária (49% e 51%, respectivamente). O banco público entra com R$ 10 bilhões e o BTG Pactual, com R$ 4 bilhões.

Procurada, a CVM não contestou a proibição. Apenas retrucou que ¿não há como confirmarmos qualquer outra informação a não ser as que já passamos¿. A Caixa informou que ¿não recebeu qualquer orientação daquele órgão sobre a restrição/proibição de entrevistas à imprensa¿. O BTG Pactual disse que ¿não comenta o assunto¿. O FGC não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.

Ontem, o PanAmericano prometeu apresentar os resultados do terceiro trimestre de 2010 até 15 de fevereiro. Em comunicado, explica ¿que não houve e nem haverá concessão de auxílio pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC)¿ diretamente à companhia. De acordo com o comunicado, o Grupo Silvio Santos aportou R$ 1,3 bilhão, a título de ajuste aos R$ 2,5 bilhões injetados pelo FGC em novembro de 2010. O comunicado não esclarece se, após a venda, o empresário manteve essa dívida no fundo ou se o BTG Pactual arcará com o passivo do banco.

Por conta dessas incertezas, o PPS vai pedir, na próxima semana, a convocação dos presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, e do BTG Pactual, André Esteves, e do empresário Silvio Santos.

Campanha Segundo o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno, a venda de 35% do PanAmericano para a Caixa por R$ 739 milhões contou com a consultoria do ex-ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken. ¿E, na última eleição, o BTG Pactual doou R$ 2,15 milhões para as campanhas de Dilma e do PT. Não estou dizendo que há irregularidade na doação, mas as coincidências se acumulam ao longo do tempo", alerta Rubens Bueno.