Título: Prêmio maior no crédito externo
Autor: Perini Lucchesi , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2008, Finanças, p. C1

A crise de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos não tem impedido a realização de empréstimos externos pelo Brasil, mas os prêmios de risco pagos pelas empresas brasileiras ficaram cerca de 20% mais altos. Os maiores bancos americanos e bancos europeus estão com falta de capital e com mais dificuldade para levantar recursos e querem repassar o aumento nos seus custos aos clientes. A disponibilidade de crédito bancário externo existe, mas não há tanta sobra de recursos. Nos empréstimos maiores a empresas no país, bancos menores estão tomando o lugar dos mais tradicionais.

"O mercado de empréstimos externos é mais estável do que o de títulos, mas os prêmios cobrados estão mais altos", diz Paulo Machado de Carvalho, responsável pelas operações de finanças estruturadas do BBVA. "Houve um leve aumento de prêmios para as empresas, mas em relação a um recorde de baixa histórico", comenta Angélica Wiegand, chefe da área de finanças estruturadas e corporativas do WestLB.

A Votorantim está com operação de US$ 1,3 bilhão no mercado que mostra o ajuste de preços. O empréstimo, liderado pelo WestLB, BBVA, Citi e Société Générale, está dividido em três parcelas. A primeira, de US$ 300 milhões, será para capital de giro. Tem o prazo de três anos e paga juros de 55 pontos básicos sobre a Libor, taxa interbancária de Londres. Há duas outras parcelas que têm as exportações como garantia: uma de US$ 500 milhões com o prazo de vencimento em cinco anos e 40 meses de carência, ao custo de 72,5 pontos básicos sobre a Libor, e outra de também US$ 500 milhões, com prazo de vencimento em sete anos e 62 meses de carência, com prêmio de 82,5 pontos básicos.

Para comparação, uma linha de crédito de US$ 400 milhões tomada pelo prazo de cinco anos pela Votorantim em junho do ano passado, sob a liderança do Citi, sem qualquer garantia nas exportações, portanto mais arriscada, teve prêmio de 60 pontos básicos sobre a Libor. A operação com garantia nas exportações de mesmo prazo da empresa paga 21% a mais neste ano de prêmio.

É importante notar o aumento de prêmio não significa que as empresas de primeira linha no Brasil estão com custo total maior nos seus empréstimos. A Libor de seis meses, por exemplo, passou de 5,39% ao ano no início de junho do ano passado para 3,79375% ontem, uma queda que mais do que compensa o aumento no prêmio da Votorantim.

Com a operação de empréstimo externo, a Votorantim vai rolar inúmeros empréstimos-ponte tomados para aquisições no exterior. Um deles de US$ 175 milhões, sob a liderança do WestLB e Société Générale, foi tomado em setembro para financiar a compra de uma empresa de concreto nos EUA, a Prestige, por aproximadamente US$ 200 milhões. A Votorantim também tomou empréstimo-ponte de US$ 200 milhões para financiar parte da compra, em maio do ano passado, de 52% do capital da siderúrgica colombiana Paz del Río pelo valor de US$ 485 milhões.

Na fase de atacado da distribuição do empréstimo, entraram os bancos Tóquio Mitsubishi, Standard Chartered, BNP Paribas e Mizuho, além de um nome novo no Brasil, o alemão Bayern. "Diversos bancos estão com critérios bem mais rígidos para emprestar e outros estão com capital apertado, o que tem estimulado novas instituições financeiras a aproveitar a oportunidade", conta Carvalho.

Já o mercado de capitais está mais arisco, com um forte movimento de aversão ao risco dificultando a emissão de eurobônus de empresas brasileiras e derrubando os juros dos títulos do Tesouro americano no mercado secundário. Os papéis de vencimento em dez anos fecharam ontem a 3,71% ao ano, na comparação com os 5,39% ao ano do início de junho do ano passado. O risco Brasil mais do que dobrou no período, passando de 61,4 pontos básicos em 19 de junho para 126,8 pontos ontem, uma queda de 0,16% no dia.

Ontem, a volatilidade tomou conta das bolsas americanas, impactando os mercados no mundo todo. O, o relatório do Fed, banco central americano, conhecido como "Livro Bege" chegou a trazer ligeira melhora de humores, ao mostrar atividade ligeiramente mais forte em dezembro com relação a novembro. Os balanços do JPMorgan e do Wells Fargo surpreenderam positivamente. Mas, os investidores estão cautelosos com as perdas que estão por vir.