Título: Títulos e ações formam colchão de reserva bilionária para os bancos
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2008, Finanças, p. C1

Os maiores bancos privados guardam em seus balanços reservas equivalentes a até um ano de lucro. No Itaú, o ganho não realizado em 2007 mas contabilizado no balanço foi de R$ 8, 489 bilhões - praticamente o mesmo valor do lucro efetivamente obtido de R$ 8,474 bilhões. No Bradesco, o ganho não realizado somou R$ 4,709 bilhões, pouco mais da metade do lucro líquido contabilizado de R$ 8,01 bilhões.

Os lucros não realizados passaram a aparecer nos balanços depois que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou aos bancos revelar o valor de mercado dos títulos, valores mobiliários e participações que possuem. Nem sempre esses títulos podem ser transformados rapidamente em dinheiro vivo. Além disso, a conta é apresentada bruta, isto é, sem considerar a tributação de 40% aplicada ao lucro dos bancos.

Mas, os analistas cada vez mais prestam atenção nessa informação. "Os ganhos não realizados não se transformam em dividendos para os acionistas, mas demonstram uma força financeira adicional. São ativos que gerariam ganho expressivo caso fossem realizados", disse o analista do setor financeiro da corretora Ágora, Aloísio Villeth Lemos.

Junto com o patrimônio, os ganhos não realizados, refletem o potencial do banco para eventuais aquisições e a possibilidade de ampliar o crédito sem aporte dos acionistas, afirmou o presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, ontem, em conferência a analistas.

Para o diretor executivo do Bradesco, Domingos de Abreu, a conta passou a ser considerada pelo investidor como mais um sinal da fortaleza dos bancos.

Bradesco e Itaú usam, no entanto, critérios diferentes para construir o inventário dos ganhos não realizados.

Praticamente metade da conta do Itaú é composta pela participação na Redecard, empresa que credencia os estabelecimentos comerciais que aceitam o cartão MasterCard. A Redecard abriu o capital no ano passado, operação em que o Itaú vendeu 8,73% do capital total da empresa, conservando 23,21%. Essa participação residual no controle foi avaliada em R$ 4,326 bilhões pelo preço de mercado do final do ano, mas somente se transformará em resultado efetivo se houver uma nova venda de ações da empresa.

Para traçar um paralelo, o Bradesco não inclui no seu quadro a participação de quase 40% no capital da Visanet, que tem o mesmo papel da Redecard para os cartões Visa. Especula-se que a Visanet também poderá abrir o capital. Se ela for avaliada pelo mesmo o preço da Redecard, poderá significar R$ 7 bilhões para o Bradesco.

Os dois bancos têm ações da Serasa, contabilizadas em R$ 271 milhões pelo Itaú, mas não registradas pelo Bradesco, que alega o fato de a empresa não ter capital aberto. O Itaú esclarece que usa como referência para calcular o valor dos 10,29% de participação indireta no capital total da Serasa que ainda possui o preço pelo qual os bancos venderam o controle da empresa para a Experian, em junho do ano passado. Mais R$ 1,5 bilhão da conta do Itaú vêm das ações que possui da Bovespa e Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

Já a conta de ganhos não realizados do Bradesco é formada basicamente por títulos públicos, avaliados em R$ 3,473 bilhões. No Itaú, apenas R$ 205 milhões são títulos e valores mobiliários.

Nos dois bancos, porém, a conta de ganhos não realizados é crescente. Setubal notou que ela cresceu R$ 6 bilhões em 2007 em comparação com R$ 2,447 bilhões de dezembro de 2006. Já no Bradesco o saldo cresceu 46,5% sobre os R$ 3,214 bilhões do fim de 2006.

Lemos, da Ágora lembra, porém, que o principal foco de atenção dos analistas é a perspectiva para o crédito. Desse ponto de vista, o horizonte também é azul para os bancos. "Apesar das medidas anunciadas pelo governo neste início de ano para reduzir o crédito, a rota de crescimento deste ano está garantida. O ritmo pode ser alterado, mas a tendência é de crescimento", disse Lemos, que projeta expansão de 20%.