Título: Países ricos reprovam produtos brasileiros
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2008, Especial, p. A12

Os tomadores de decisão dos países ricos desconfiam dos produtos e das empresas com sede em países emergentes, incluindo o Brasil. Entre 18 nações pesquisadas, as companhias brasileiras amargaram a 15ª posição em um ranking de confiança elaborado pela Edelman, que será divulgado hoje no Fórum Econômico Mundial, que se realiza na cidade de Davos, na Suíça. Perderam apenas para as empresas chinesas, mexicanas e russas, que ocuparam as últimas posições, nessa ordem.

A Polônia e a Irlanda são os países que menos confiam nos produtos brasileiros. Apenas 9% e 13% dos formadores de opinião, respectivamente, responderam que têm uma boa imagem das companhias do Brasil. Na Suécia e na Inglaterra, o indicador também foi baixo: 19%. Nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, só 34% dos executivos disseram que confiam nas empresas brasileiras.

Por blocos econômicos, os resultados não são bons para o Brasil. Na União Européia, apenas 20% dos entrevistados acreditam nas empresas brasileiras. Esse percentual fica em 32% na América do Norte e 44% na Ásia. Na América Latina, o resultado é muito melhor: 69% dos entrevistados confiam nas empresas e nos produtos do Brasil.

"As empresas de países emergentes estão comprando companhias no mundo rico, mas não se preocupam em melhorar a comunicação", diz Ronald Mincheff, presidente da Edelman no Brasil. "O Brasil é relativamente novo no mercado internacional, porque até pouco tempo só vendia commodities. A identidade 'Brasil' é nova e, por isso, precisa ser trabalhada", completa o executivo.

As companhias brasileiras causam uma boa impressão na China e no México, que também são países emergentes. Entre os executivos chineses e mexicanos, 61% e 64% afirmaram que confiam nas empresas do Brasil. Na Rússia e na Índia, no entanto, o país não vai bem, conquistando apenas 25% e 35% dos entrevistados, respectivamente.

O lugar onde as companhias brasileiras causam a melhor impressão é dentro de casa. Dos executivos entrevistados no país, 73% disseram que acreditam nas empresas brasileiras. Os brasileiros, no entanto, ainda apostam suas fichas nos produtos e nas empresas japonesas, com o índice de confiança chegando a 88%. Também possuem uma boa imagem no Brasil as empresas alemãs (86%), suecas (85%) e holandesas (89%). Os produtos que os brasileiros menos confiam são os chineses, com apenas 33% dos entrevistados a favor. Pesam contra a imagem dos produtos chineses escândalos recentes como a contaminação de brinquedos e rações animais produzidos no gigante asiático.

A pesquisa da Edelman também tenta quantificar a confiança que inspiram governos, organizações não-governamentais e empresas. Com relação à credibilidade do governo, apenas 22% dos entrevistados no Brasil responderam que confiam na instituição. É o segundo indicador mais baixo, perdendo apenas para a Polônia, com 11%. Na avaliação de Mincheff, o dado é "grave" e pode ser atribuído a uma seqüência de crises, como mensalão, caos aéreo, apagão energético e febre amarela.

Questionados sobre o que as empresas devem fazer para construir sua reputação, a maioria dos entrevistados no Brasil (73%) optou por respeito ao meio ambiente, seguido de geração de empregos (65%). O Brasil e a Holanda foram os únicos países que colocaram o meio ambiente em primeiro lugar entre as opções. "É natural essa preocupação, já que o Brasil, onde está a Amazônia e o Pantanal, é o país que mais tem a preservar", diz Mincheff.

Junto com a Índia, o Brasil foi o país que apresentou o maior grau de confiança nas empresas de tecnologia (91%). Em seguida, aparece o setor automotivo (84%). Os bancos possuem o menor índice de confiança entre os brasileiros (52%). Os dados apontam que 46% dos formadores de opinião no Brasil lêem blogs ao entrar na internet. Um fenômeno que está no início em outros países emergentes.

Na maioria das nações, os líderes de opinião afirmaram que as instituições que mais acreditam são as ONGs e as empresas. Nos Estados Unidos, o índice de confiança nas empresas atingiu 58%, um recorde histórico após os escândalos contábeis envolvendo empresas americanas e acima do piso de 44% de 2002.

Já no Brasil, a mídia foi a instituição de maior credibilidade, apontada por 64% dos entrevistados, seguida de empresas (61%), instituições religiosas (48%) e, por último, o governo, com apenas 22% de indicações.

Maior empresa de relações públicas do mundo, a Edelman elabora anualmente um índice de confiança, para o qual são entrevistados 3.100 líderes de opinião em 18 países. Os entrevistados têm entre 35 e 64 anos, possuem formação superior e fazem parte dos 25% da população de seus países com maior renda familiar.