Título: Novo campo pode dobrar reservas de gás
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2008, Empresas, p. B6

Silvia Costanti/Valor Estrella, diretor da Petrobras: "O governo pode rearrumar sua estratégia energética e sua relação com outros países" A descoberta pela Petrobras do gigantesco campo de gás chamado Júpiter, com espessura de 120 metros localizada a 37 km a leste de Tupi, aumenta as expectativas em torno das reservas na área do pré-sal da bacia de Santos. O banco Credit Suisse divulgou na segunda-feira um relatório de doze páginas onde calcula que as reservas equivalentes de gás e condensado em Júpiter variam de 28 a 45 trilhões de pés cúbicos (TCF) de gás natural, considerando-se que tenha proporções equivalentes às de Tupi (entre 5 a 8 bilhões de barris de petróleo), informou a estatal.

Assumindo-se que o campo tenha reservas dessa magnitude, ele permitiria ao Brasil ultrapassar o lugar da Bolívia e da Argentina, hoje segundo e terceiro maiores detentores de reservas de gás da América do Sul. No melhor cenário estimado pelo banco, de 45 TCFs de gás, o campo teria mais que o total de reservas da Bolívia, que é de 40 TCFs considerando-se as reservas provadas, prováveis e possíveis. O volume também é superior às reservas totais da Argentina, de 27 TCFs.

Para se ter outra medida do volume de gás que esse campo pode abrigar, ele permitiria ao país manter o atual consumo - que é de aproximadamente 50 milhões de metros cúbicos ao dia - por 43 ou 70 anos, ainda segundo os cálculos do Credit Suisse, assinado pelos analistas Emerson Leite, Vinicius Canheu e Luiz Monteiro. O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, foi cauteloso ontem ao comentar a descoberta, mas não escondeu certa euforia. Até brincou, dizendo que o banco tinha mais informações do que ele e disse que não poderia fazer conjecturas antes de ter uma avaliação melhor da área.

Estrella, porém, admitiu que as expectativas apontam para uma produção no local de tal magnitude que permitam suprir a demanda do país com suas próprias fontes de gás. E respondeu a uma pergunta sobre as perspectivas de Júpiter de forma indireta. "Se as expectativas que temos sobre essa descoberta apontam para uma produção que possa garantir o suprimento brasileiro de gás por nossas próprias fontes? Sim. Se vamos nos tornar exportadores de gás? Depende das condições do mercado na época da produção, depende da negociação com a Galp (sócia do projeto, com 20%), e depende da decisão do governo de exportar ou não o gás, que é estratégico para a matriz do crescimento brasileiro".

O diretor foi enfático ao explicar que ainda não é possível calcular o volume de reservas em Júpiter porque a sonda utilizada na perfuração do bloco BM-S-24, onde o campo foi encontrado, precisou ser retirada depois de perfurar 100 metros do reservatório de gás e antes de atingir o fundo da jazida. Segundo ele, ao informar que a estrutura da área pode ter dimensões iguais às de Tupi se referia ao tamanho do reservatório, que tem 1.200 quilômetros quadrados, e não às reservas potenciais. Qualquer que seja o tamanho, a descoberta foi considerada impressionante. Pedro Camarota, diretor de negócios da Gas Energy e ex-diretor comercial da Repsol na Bolívia, avalia que a Petrobras está diante de um novo paradigma.

"Acho que a Petrobras vai precisar furar novos poços para ter uma idéia da real dimensão do que ela encontrou. Mas é uma boa notícia que sinaliza a diminuição da dependência de fontes externas de gás. Outro ponto importante é que a nova descoberta tem impacto direto no aproveitamento do gás associado ao petróleo do campo de Tupi. Um campo de gás ao lado traz escala para fazer um projeto integrado. O desafio agora é viabilizar a infra-estrutura para trazer o gás para a costa", avalia Camarota.

Estrella admitiu que as descobertas recentes permitem ao Brasil ter "conforto" no seu suprimento. "O governo pode rearrumar sua estratégia energética e sua relação com outros países. Energia é um fato político permanente", disse o diretor, ponderando que a integração energética da América do Sul é um fato. Em seguida lembrou que o Brasil, como grande consumidor e produtor da região, tem que "interagir" com os demais países. "A integração energética é parte de um todo. A energia é um aspecto dessa grande relação com os vizinhos", afirmou o executivo.

Até o fim do ano, a Petrobras vai voltar ao local para tentar continuar a perfuração do poço de Júpiter de onde parou ou fazer outro furo, se isso não for possível. A sonda foi retirada porque precisa ir para manutenção. Por isso Estrella não descartou a possibilidade de encontrar mais gás e até petróleo no local.

No próximo ano, o programa exploratório da companhia será turbinado com a chegada de mais quatro sondas de perfuração, que se somarão às duas únicas com capacidade de perfurar em águas ultra-profundas que vêm trabalhando a plena capacidade. O próximo bloco perfurado na bacia de Santos será o BM-S-8

Com Júpiter, o Credit Suisse elevou as estimativas de reservas no pré-sal da bacia de Santos de 31,3 bilhões de barris de óleo equivalente para 37,3 bilhões de barris no cenário médio, e de 46,2 bilhões de barris para 53,4 bilhões de barris em um cenário que o analista chama de "céu azul". O novo campo foi avaliado entre US$ 13,5 bilhões a US$ 21,6 bilhões. Como tem 80% da área, em associação com a portuguesa Galp, a Petrobras identificou potencial no pré-sal também nas bacias de Campos e Espírito Santo. "Tentamos dimensionar ainda mais a nova descoberta ouvindo outros analistas e a Petrobras."

Ontem, as ações ordinárias (ON) da Petrobras fecharam a R$ 86,26, com alta de 10,58% e as preferenciais (PN) a R$ 72,96, com alta de 9,76%. Os papéis da Galp na Europa fecharam cotadas a 15 euros, alta de 9,89%.