Título: Investimento dispara e eleva pressão sobre câmbio chinês
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Fonte: Valor Econômico, 19/02/2008, Internacional, p. A13

A China atraiu US$ 11,2 bilhões em investimento direto externo (IDE) em janeiro, uma alta de quase 110% em relação ao mesmo mês do ano passado. O dado surpreendeu, pois o governo chinês vem buscando inibir os investimentos para esfriar a economia, que cresceu mais de 11% em 2007. A forte alta do IDE deve pressionar o país a permitir uma valorização maior de sua moeda, o yuan.

Ainda ontem, um pesquisador do Ministério das Finanças defendeu uma ampliação da banda de flutuação do yuan. Isso fez com que a moeda chinesa atingisse sua maior cotação em seis semanas. Outro especialista afirmou que o país vai permitir a valorização do yuan em relação a moedas de outros parceiros comerciais, e não só em relação ao dólar.

O Ministério do Comércio, que divulgou ontem os números do IDE, não ofereceu nenhuma explicação para o acentuado incremento dos investimentos.

A economia chinesa cresce num ritmo acelerado, num momento em que investidores estão preocupados com uma recessão nos Estados Unidos e em que as empresas estão correndo para ampliar os lucros. O número de novas empresas na China financiadas com capital estrangeiro cresceu apenas 13,4% em relação a janeiro de 2007. Isso sugere que investidores passaram a apostar mais em projetos maiores e mais intensivos em capital.

Em janeiro, 2.918 empresas foram criadas com investimento externo, segundo o Ministério do Comércio. O dado não inclui investimentos no setor financeiro. Durante todo o ano passado, o IDE da China cresceu 13,8%, chegando a US$ 82,7 bilhões, apesar das medidas de Pequim para reduzir a expansão dos investimentos.

A preocupação do governo chinês é que a fuga de investimentos em indústrias, como as do setor automobilístico, desencadeie uma crise de dívida caso esses projetos não necessários não decolem.

Em relação às pressões para que Pequim valorize o yuan, Yang Yuanjie, do Instituto de Pesquisas do Ministério das Finanças, disse, em artigo veiculado no domingo pela agência estatal de notícias Xinhua, que o governo deveria ampliar a banda de flutuação do yuan. Hoje, as autoridades financeiras do país permitem que moeda flutue 0,5% em relação ao dólar a partir da taxa estabelecida diariamente pelo banco central.

Outro acadêmico, Li Yang, ex-conselheiro do Banco do Povo, o banco central da China, disse que o país vai permitir uma maior valorização da moeda em relação a outras moedas e não apenas em relação ao dólar. Há uma "mudança no modo como o banco central monitorará os juros e no foco de sua política de metas", disse Li, que é presidente da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Segundo ele, o banco central vai se concentrar em uma taxa de câmbio "efetiva" mais favorável ao comércio. Em 2008, avaliou ele, o yuan vai se valorizar em relação a algumas das principais moedas mas "a taxa efetiva geral tenderá a ficar estável".

A valorização do yuan em relação a um número maior de moedas poderá ajudar a China a diminuir o ritmo de crescimento de seu superávit comercial, que inundou a economia de dinheiro. Em janeiro o superávit saltou 23% em relação ao mesmo mês de 2007.