Título: Bloco de PSB, PDT e PCdoB disputa dividido a maioria das capitais
Autor: Agostine , Cristiane ; Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Política, p. A6

O bloco de esquerda que pode servir de sustentação política para a candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) em 2010 corre o risco de concorrer dividido na maioria das capitais este ano. A união do PSB, PDT e PC do B só está consolidada em João Pessoa, onde Ricardo Coutinho (PSB) concorre à reeleição. Esta semana, as cúpulas dos três partidos devem se reunir para uma primeira tentativa de ganhar alguma uniformidade. No cenário atual, as conveniências regionais têm prevalência absoluta e acordos destas siglas com o PT são mais freqüentes do que entre si.

"As eleições deste ano serão vinculadas a 2010, mas a estratégia começará a ser definida agora . Ou os partidos acumularão forças em bloco, ou o farão individualmente", disse o deputado Aldo Rebelo (PC do B), que se coloca como pré-candidato a prefeito em São Paulo, do mesmo modo que os deputados Paulo Pereira da Silva (PDT) e Luiza Erundina (PSB). O problema deve ter a solução adiada para maio ou junho "Não é hora de fechar alianças", diz senador Renato Casagrande (ES), dirigente do PSB.

Dos três partidos, o PDT é o que apresenta mais dificuldade de estabelecer alianças com os parceiros. "O partido está sem referência nacional e projeto definido desde a morte de Leonel Brizola, em 2004, e a realidade regional fala mais alto", afirmou o ex-deputado Sérgio Miranda, que tenta viabilizar a sua candidatura em Belo Horizonte. Não será fácil: o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), articulam a candidatura de Márcio Lacerda (PSB). O presidente regional do PDT, Manoel da Costa, é secretário estadual de Aécio. Oposicionista, o PC do B deve bancar localmente a deputada estadual Jô Moraes.

Para Miranda, os obstáculos a uma atuação conjunta das três legendas na eleição municipal não são pequenos. "O acordo nacional ainda tem pouca consistência. Cada partido tem seus projetos próprios. O PCdoB quer se diferenciar, ter uma marca nas eleições majoritárias e tende a apresentar candidatos em todas as cidades importantes. O PSB está muito marcado pelo projeto de Ciro Gomes", comentou Miranda.

Dentro do bloco, a aproximação é mais fácil entre PCdoB e PSB. Os partidos tendem a disputar juntos as prefeituras do Rio de Janeiro e de Aracaju. Em ambos os casos, o PSB apoiaria candidatos do PC do B: respectivamente, a ex-deputada Jandira Feghali e o prefeito Edvaldo Nogueira, que tenta a reeleição. No caso sergipano, uma aliança com o PDT não está descartada, mas no Rio, o radialista Wagner Montes deve ficar com a candidatura pedetista. Mesmo próximo aos comunistas, ainda assim o PSB apresentou no Rio o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa como uma alternativa. "Nosso compromisso é em fazer alianças primeiro com os partidos do bloco", afirma Roberto Amaral, um dos vice-presidentes do PSB. "Só depois de esgotadas as possibilidades é que procuraremos outros partidos", diz.

Em muitas cidades as possibilidades se esgotaram rapidamente, sempre em função do quadro regional. Em Teresina, o PSB deve apoiar o candidato petista Nazareno Fonteles. No Piauí, a sigla é antiga aliada do PT e preencheu a vice na chapa que elegeu o petista Wellington Dias governador do Estado.

O apoio do PSB também vai para o PT em Vitória, onde o partido defende a reeleição de João Coser e pleiteia continuar como vice na prefeitura. Em Fortaleza, o apoio à reeleição de Luizianne Lins, do PT, gerou mal-estar entre caciques do PSB no Ceará. Cid Gomes, governador do Estado, que tem um vice indicado por Luizianne, apóia publicamente a petista. Ciro Gomes, irmão de Cid, simpatizava com a candidatura de sua ex-mulher, a senadora Patrícia Saboya, que migrou do PSB para o PDT para concorrer à prefeitura. Patrícia tem o incentivo velado do senador do PSDB Tasso Jereissati (CE).

Em Recife, o governador do Estado, Eduardo Campos - presidente nacional do PSB - comprometeu-se em apoiar o PT e articulou o apoio a João Costa, candidato do prefeito petista, João Paulo. No Paraná, o compromisso socialista é com os tucanos. O prefeito Beto Richa (PSDB) conta com um vice do PSB.

Ainda que divididos, os pré-candidatos em São Paulo e Porto Alegre garantem que farão um acordo de apoio ao postulante com maior viabilidade. "Não dá para disputar sozinho. Se isto acontecer, não teremos chance alguma", disse o pedetista Paulo Pereira da Silva (SP). Em Porto Alegre, existe a mesma disposição entre a deputada Manuela D'Avila, do PCdoB, o deputado Beto Albuquerque (PSB) e o deputado Vieira da Cunha, vice-presidente do partido. "Nosso propósito é ter uma candidatura única", diz Cunha, um dos vice-presidentes do PDT. O parlamentar analisa que as eleições de 2008 "serão um grande teste" para o bloquinho. "Se conseguirmos nos respeitar e fazer composições, poderá nascer um projeto comum para 2010." Questionado sobre a dificuldade do partido compor nas capitais, Cunha justifica que é tradição do PDT lançar candidatos nas principais cidades e que isso ajuda na consolidação do partido no plano nacional.

Os partidos têm chance de se articular também em Goiânia e Manaus, segundo Casagrande, do PSB. Em Goiânia, PCdoB e PDT não apresentaram pré-candidatos e o PSB lançou Barbosa Neto. Em Manaus, o prefeito Serafim Corrêa, do PSB, tende a receber apoio à reeleição do PDT e negocia com o PCdoB para que retire a candidatura de Vanessa Grazziotin. Não será fácil. "O quadro lá é muito diferente do de outros prefeitos que tendem à reeleição. Existe a questão do desgaste popular da administração", afirma o presidente nacional do PC do B, Renato Rabello.