Título: Efeitos devem demorar, diz Pastore
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2008, Finanças, p. C5

O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore diz que as perspectivas para a economia americana "certamente melhoram" com os cortes de juros e os estímulos fiscais, aumentando a probabilidade de que não haja uma recessão. Ele alerta, porém, para uma questão crucial: a defasagem entre as medidas e o seu efeito sobre a atividade econômica. "As defasagens de política monetária são longas, e mais longas nos EUA do que no Brasil."

Para Pastore, isso significa que "o quadro do lado real certamente será melhor ao final de 2008 e em 2009", mas no curto prazo o cenário é bem menos róseo. "Ao longo dos próximos meses, o que a economia iria se desacelerar antes desses cortes, continuará se desacelerando mesmo depois deles". Em resumo, o alívio do lado do crescimento e do emprego deve ocorrer apenas mais para a frente. "O alívio que vem mais cedo é nos preços dos ativos, que cairão menos, ou eventualmente terão sua queda truncada", diz Pastore.

Ele vê um quadro mais favorável para o Brasil, porque o país está hoje bem mais forte do ponto de vista macroeconômico. Mesmo assim, não ficará ileso. Ele lembra que o Brasil, hoje, caminha para um déficit em conta corrente. "Isso ocorre porque a poupança no Brasil é baixa, e a aceleração do crescimento requer o aumento dos investimento. Investimento maior do que poupança é idêntico a déficits em conta corrente."

A questão, segundo ele, é que esse buraco será maior se a recessão nos EUA desacelerar mais a economia mundial. "Nesse caso caem, ainda que moderadamente, os preços de commodities, e o déficit em conta corrente no Brasil cresce." Até aí, porém, não haveria problema, porque os fluxos de capitais poderiam financiar esse déficit maior.

"O problema surge quando essa desaceleração mundial leva, também, ao aumento do grau de aversão ao risco, caindo os fluxos de capitais." Isso tende a provocar uma depreciação do câmbio real, que não será tão intensa como há alguns anos, "mas pode ser elevada o suficiente para mudar o curso da política monetária, desacelerando o crescimento", diz Pastore. (SL)