Título: Alta de 65%, deve ampliar exportações em US$ 10 bi
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 19/02/2008, Empresas, p. B6

Carol Carquejeiro/valor Martins, diretor executivo da Vale: próximo passo é a negociação com as usinas de aço chinesas e com ArcelorMittal Depois de fechar reajuste do minério de ferro com japoneses, coreanos e com a ThyssenKrupp, o próximo embate da Vale do Rio Doce é acertar com os chineses e com a ArcelorMittal, a maior siderúrgica do mundo. As negociações estavam tensas e acirradas com a China. Aí, a Vale centrou esforços nos nipônicos que estavam com números mais próximos aos da mineradora. Por conta disto, a Vale conseguiu arrancar um aumento expressivo, de 65% para o minério fino de Itabira e de 71% para o fino de Carajás, que, na avaliação de José Carlos Martins, diretor de ferrosos da Vale, vai ser adotado também pelas outras siderúrgicas.

"Acredito que fecharemos nos próximos dias com os chineses. O reajuste na Ásia só vigora a partir de 1º de abril. Não existe caso na história das negociações de aumento de minério da referência de mercado (benchmark) não ser seguida. Foi um fechamento representativo, com Nippon Steel e Posco, que ninguém pode questionar. Dentro do princípio da negociação, espero que os outros clientes acabem aceitando o novo preço", disse Martins ao Valor.

O aumento vai impactar fortemente a balança comercial brasileira. Segundo cálculos do analista Oscar Rudge, da Paraty Investimentos, a Vale deverá exportar mais US$ 9 bilhões a US$ 10 bilhões de divisas em minério, já que embarca 90% do que produz. Outro impacto positivo está relacionado à operação de compra da anglo-suiça Xstrata. Segundo analistas, o fluxo de caixa ajustado (Lajida) deve fechar 2008 em US$ 25 bilhões, gerando uma relação dívida líquida/Lajida de duas vezes, se vier a tomar US$ 50 bilhões dos bancos para comprar fechar o negócio.

O reajuste do minério foi acima da expectativa do mercado, que esperava na média entre 40% e 50%. O novo aumento quase superou o recorde de 2005, de 71,5%. Roger Downey, analista de mineração do Credit Suisse, disse que as mineradoras mostraram maturidade não deixando o processo de negociação se arrastar muito. Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, destacou que a Vale foi "muito astuta" ao mudar o centro de atenções dos chineses para os japoneses. "A empresa direcionou o foco de sua atenção pelo fato de os chineses estarem travando as negociações".

Com o acordo, os novos preços do minério da Vale, posto no porto, são de US$ 76 a tonelada para o fino de Itabira e US$ 78 para o de Carajás vendido na Ásia, segundo analistas. Para a Europa, o fino Carajás teve um reajuste um pouco menor de 71%, informou Martins. Ainda não foram negociados preços das pelotas de ferro, que deverá sair logo em seguida. Ferraz aposta num aumento de 30% para as pelotas (de maior valor agregado - hoje valem US$ 80), que geralmente são aumentadas em percentuais abaixo do minério.

A segunda maior mineradora do mundo, a Rio Tinto, tem planos de não seguir os reajustes acertados pela Vale, ameaçando quebrar o paradigma adotado de longa data no setor. O primeiro produtor a fechar serve como referência para os demais. A anglo-australiana, bem como a rival BHP Billiton, quer receber um diferencial de frete que reflita os menores custos para os consumidores da China, Japão e Coréia do Sul do produto recebido da Austrália em comparação com o do Brasil. Poderão ser criados dois preços no mercado transoceânico. Sam Walsh, presidente da Rio Tinto, disse que a empresa continuará a negociar para obter um prêmio de frete que reflita a proximidade com a Ásia e seus maiores clientes.

Martins acha que esta é uma questão de mercado. "Eles estão discutindo o assunto com seus clientes. Mas, não vejo problema nenhum para a Vale. Não nos afeta". Segundo ele, o que a Vale quer é reconhecer seu diferencial de qualidade do minério, o que em parte já conseguiu. "Cada um batalha pelo que tem".

A Vale este ano pretende ampliar sua produção de minério de ferro em 10% e alcançar 325 milhões de toneladas. Em 2007, produziu 297 milhões de toneladas. Segundo o analista do Credit Suisse, o mercado transoceânico de ferro deve negociar este ano 870 milhões de toneladas, apontando um déficit sobre a demanda em torno de 20 milhões de toneladas. Downey acredita que esse déficit deve permanecer até 2012. Para 2009, ele prevê ainda um aumento de 20% no preço do minério. Para o futuro, acredita que o produto deverá manter patamares altos de preços, na faixa de US$ 50 a tonelada FOB, mesmo num cenário de equilíbrio de oferta e procura.