Título: Siderurgia ainda não espera retração
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2008, Finanças, p. C6

Leo Pinheiro / Valor Mello Lopes, vice-presidente do IBS: "Respingo na economia real preocupa" O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) não prevê, no curto prazo, cenário de crise na indústria do aço. "Até o momento, não tivemos nenhuma sinalização que permita, no caso siderúrgico, identificar sinais de recessão no mercado americano. Se olharmos sob a ótica da atividade das usinas nos EUA, ela não sofreu nenhum impacto do subprime e está até exportando, coisa que não fazia. Agora, com a reação das bolsas há o temor no mundo inteiro de que a crise dos títulos imobiliários já tenha respingado na economia real, e isso nos preocupa", afirmou Marco Pólo de Mello Lopes, vice presidente-executivo do IBS.

Segundo ele, ainda pode ocorrer um aquecimento na demanda por aço com aumento de preços, caso do vergalhão, que pulou para uma faixa de US$ 740 a tonelada (FOB-Turquia) no início do mês, por conta de demanda da China. O consumo aparente de aço previsto para 2008 pelo IISI (instituto internacional) é da ordem de 1,278 milhão de toneladas, dos quais 443,8 milhões de toneladas demandadas pela China e 834,8 milhões no resto do mundo. Nas contas do IISI, a procura por aço vai subir este ano 6,8%, sobre 1,197 milhão de toneladas em 2007. No ano passado, foram produzidas 1,3 milhão de toneladas de aço bruto no mundo, volume que deve subir um pouco mais este ano, disse Lopes.

Na avaliação do executivo, se ocorrer de fato recessão nos EUA seus efeitos podem respingar em todo o mundo, pois no fundo vivemos num mercado globalizado. Mesmo com oferta e consumo elevados de aço, cenário que vai na contra-mão da sinalização do mercado americano, um quadro recessivo poderá ter consequência dupla para a siderurgia mundial. Primeiro, perde-se a fatia do mercado americano com impacto negativo sobre as usinas de aço locais. Segundo, haveria um desvio de mercado, o chamado desvio de comércio com a necessidade de realocar em outros locais os produtos siderúrgicos destinados aos EUA, com reflexos negativos nos preços.

O sócio diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, desenha um quadro um pouco mais pessimista para as commodities se a economia americana crescer zero ou mesmo ter taxa negativa este ano. "A RC projeta 0,5% de expansão para a economia americana em 2008, mas a redução dos juros básicos pelo FED (Banco Central) em 0,75% sinaliza que o tamanho do encolhimento da atividade do país pode ultrapassar estas expectativas. O ajuste pode ser mais drástico", alerta. Por isso, ele estima queda nas cotações das commodities metálicas e minerais, pois são matérias primas usadas na produção de bens de consumo duráveis e na construção civil. "O ponto é que elas vão cair, não tenho a menor dúvida. Só não sei se rapidamente".

Silveira avalia que o enfraquecimento dos EUA, maior economia do planeta, vai repercutir sobre as exportações de bens de consumo duráveis da China para o país. "A China vai produzir menos e pode desacelerar um pouco, crescendo 11% este ano e não 12%, o que afeta a demanda por metais". Ele acredita que os preços do níquel, cobre e alumínio devem encolher, e mesmo o do aço, na faixa de 10% a 20%, que comparados com as acelerações de preços destes insumos nos últimos dois anos, ainda deixa suas cotações em patamares confortáveis. O declínio no preço do aço pode não acontecer de imediato, mas na opinião do especialista, "não há espaço para os produtos siderúrgicos continuarem subindo frente ao enfraquecimento e da demanda global, incluindo a China". No caso do minério de ferro, se a recessão açoitar com força os mercados, a indústria siderúrgica vai entrar em forte confronto com as mineradoras para evitar um reajuste do minério em 2008 acima de 35%. Para 2009, avalia que o preço do minério vai ser reajustado para baixo.

Mesmo diante das incertezas em relação à economia mundial, os fabricantes brasileiros de celulose estão decididos a manter o reajuste de US$ 30 da tonelada exportada aos mercados asiáticos. Os preços vão vigorar em fevereiro. Essa intenção foi anunciada na semana passada especificamente para Ásia. Segundo um porta-voz de uma das empresas, a demanda na China mantém-se muito acima do que a oferta, o que pressiona a alta nas cotações. O reajuste levará o preço a US$ 750 a tonelada na região. Ao longo de 2007, os preços subiram quatro vezes. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)