Título: OLPC quer produção de laptops no Brasil
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Empresas, p. B3

Hélio Rotenberg, presidente da Positivo: "Ficamos frustrados com a decisão, mas estamos prontos para a próxima" Vem aí o segundo round. Nem bem o Ministério da Educação (MEC) oficializou o cancelamento do pregão eletrônico para compra de 150 mil laptops educacionais, o Planalto já começa a se articular para mudar as regras do edital e tentar, mais uma vez, dar vida ao seu projeto Um Computador por Aluno (UCA). Reuniões entre líderes da iniciativa deverão ter início hoje, em Brasília.

A retomada do projeto estava planejada. Em entrevista ao Valor, César Álvarez, assessor especial da Presidência e coordenador do UCA, afirmou que se encontrou com o ministro da Educação, Fernando Haddad, e acertou que um novo edital será publicado entre 30 e 45 dias. "Foi uma decisão técnica-orçamentária, que não incide em nada sobre a proposta de se fazer uma experiência dessa magnitude, atingindo 300 escolas do país com o tema da mobilidade", disse. "Estamos trabalhando para modificar especificações técnicas que levem ao barateamento."

Uma das mudanças que o governo deve fazer diz respeito à exigência de três anos de assistência técnica, o que puxava o preço.

De volta à estaca zero, o prometido UCA volta a atrair a atenção das empresas, principalmente daquelas que perderam a disputa inicial para a Positivo Informática, fabricante que venceu a etapa inicial do processo e que há dois meses tentava bater o martelo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC que realizou o pregão.

Agora, quem promete endurecer o jogo é a organização Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês). Em entrevista ao Valor por telefone, David Cavallo, coordenador da entidade, disse que a OLPC está em busca de um fabricante no Brasil para bancar a produção do XO, como foi batizado seu equipamento. Braço direito do ex-professor do MIT Nicholas Negroponte, Cavallo participa desde 2005 de pesquisas em torno da idéia que ficou popularmente conhecida pela alcunha de o laptop de US$ 100. "Não somos uma empresa, mas como educadores queremos ver nosso projeto funcionando Brasil", comentou. "O país é fundamental para o projeto e por isso vamos ampliar nossas parcerias."

Hoje a OLPC tem um contrato mundial de produção com a chinesa Quanta. No Brasil, a entidade entrou no pregão do MEC representada pela Simm do Brasil, empresa com sede em Campinas que, segundo Cavallo, ficou responsável apenas pela distribuição dos equipamentos. A Simm foi procurada pela reportagem, mas não respondeu ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.

No ano passado, disse Cavallo, a OLPC chegou a conversar com vários fabricantes brasileiros sobre a possibilidade de produzir o XO no país, mas não houve acordo. "Na realidade, o que as empresas fazem no Brasil é a montagem de máquinas, ninguém produz nada, efetivamente." Ainda assim, o pesquisador lembra dos benefícios fiscais concedidos a empresas que montem máquinas. "Conhecemos as regras, e dessa vez vamos atrás dessa parceria", disse, sem dar nomes de companhias que poderiam assumir a produção no país.

Com a sua fabricação na China, o preço mais baixo que o XO alcançou no pregão brasileiro foi de R$ 104,5 milhões, contra os R$ 98,1 milhões atingidos pela Positivo e seu Classmate, máquina idealizada pela fabricante de chips Intel.

A reformulação de planos também está na pauta de quem, na última hora, decidiu ficar de fora do primeiro pregão. É o caso da indiana Encore. Há pouco mais de uma semana, diz Jakson Alexandre Sosa, diretor-presidente da Encore e da Comsat no Brasil, a subsidiária foi procurada por analistas do MEC para "novas análises laboratoriais" de seu produto, o Mobilis.

Em dezembro, a Encore não disputou o pregão eletrônico do FNDE porque seu equipamento não atendia especificações técnicas do edital. Uma delas era a exigência de um teclado acoplado ao equipamento. O Mobilis funcionava por meio de toque na tela. De qualquer forma, adianta o executivo, a Encore já trabalha para trazer ao país um segundo modelo de laptop para disputar o UCA e, desta vez, com teclado.