Título: Alckmin recebe DEM e deve se encontrar Serra
Autor: Agostine, Cristiane; Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Politica, p. A6

Dirigentes do PSDB e do DEM aceleraram ontem negociações para tentar salvar a aliança na eleição municipal deste ano em São Paulo. O cenário mais provável hoje é o da divisão. O pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, recebeu ontem o ex-presidente do DEM e ex-governador catarinense Jorge Bornhausen. Na terça-feira, já havia se encontrado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contrário à sua candidatura.

Na próxima semana, Alckmin deve se encontrar com o governador José Serra (PSDB), principal defensor do apoio tucano à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Pela primeira vez, Alckmin e os integrantes do DEM admitiram - ainda que de maneira indireta e sutil - que podem rever suas candidaturas. "Alckmin deixou claro que irá se submeter à posição do partido. Ele não está sendo intransigente, é uma situação diferente da de 2006", afirmou o deputado estadual Orlando Morando, candidato a vice-prefeito de São Bernardo do Campo, depois de um encontro de Alckmin com pré-candidatos a prefeituras da região metropolitana de São Paulo. Na eleição de 2006, Alckmin lançou-se candidato a presidente contra a vontade da cúpula da sigla, que preferia a candidatura do então prefeito paulistano Serra.

Bornhausen foi lacônico depois do encontro com Alckmin. Divulgou na página do partido na Internet uma declaração, mencionando a importância da candidatura única na cidade. Na declaração, Bornhausen falou em nome de Alckmin. "Ambos concordamos que a eleição de 2008 terá influência sobre a eleição de 2010. Concordamos também sobre a necessidade da manutenção da coligação PSDB/Democratas. O caminho para esta união implica em diálogo sério e com espírito público. Há tempo necessário para uma solução comum", afirmou.

Por meio de interlocutores, Alckmin comentou que quer manter "canais abertos para o diálogo", mas foi enfático na defesa da candidatura própria. O ex-governador sinalizou que Bornhausen pode ter exagerado ao afirmar no consenso de ambos sobre a influência da eleição municipal sobre a nacional. "Discutir 2010 é prematuro", comentou um interlocutor de Alckmin.

O ex-governador começa a ouvir dentro do próprio PSDB apelos para que tire o pé do acelerador. "É preciso estar unido nesta eleição. Do contrário, o partido vai perder. E perder para o PT", disse o deputado Paulo Renato Souza, que esteve recentemente com Alckmin. "A premissa básica é que PSDB e DEM têm responsabilidades em 2010. Não há porque sermos aventureiros, porque senão haverá conseqüências prejudiciais na eleição nacional", afirmou o deputado Arnaldo Madeira.

Na bancada estadual, onde o apoio a Alckmin é majoritário, continua a pressão para que haja uma definição rápida a favor do ex-governador. A líder da bancada na Assembléia, Maria Lucia Amary, divulgou pela internet um "comunicado oficial" em que anuncia uma reunião no dia 12 de fevereiro, com as presenças de Alckmin, Serra, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do presidente do Diretório Municipal, José Henrique Lobo "para então decidirem se o PSDB terá ou não candidato próprio".

Na realidade, o que está agendado para este dia é apenas uma reunião da bancada estadual tucana, segundo afirmou a própria Maria Lucia, quando procurada para falar do "comunicado". Os demais dirigentes estão apenas convidados. É pouco provável a presença, já que a bancada federal estará às vésperas da escolha de seu novo líder, o que deve acontecer no dia 13. "Não se pode discutir o assunto em uma só instância. Queremos contribuir para o debate", disse a deputada, que participou anteontem de um jantar na casa do deputado estadual Bruno Covas para tratar do tema.

O que deve ocorrer ainda antes do Carnaval é uma nova conversa entre Alckmin e Serra. Enquanto o governador acena com apoio em 2010, Alckmin tem se queixado a interlocutores de não ter sido consultado para a montagem da equipe serrista. No último encontro, em dezembro, os dois tucanos contornaram o assunto da eleição municipal. Da mesma forma como no mês passado, a reunião deve ser feita de modo discreto.