Título: Crise pode criar 5 milhões de desempregados em 2008
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Internacional, p. A9

As turbulências na economia internacional poderão ampliar este ano em 5 milhões o contingente de desempregados em todo o mundo. A projeção é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que divulgou ontem um relatório sobre tendências do emprego para este ano.

A organização afirma que a desaceleração do crescimento dos países industrializados - provocada pela crise no mercado de crédito e também pela disparada nos preços do petróleo - vinha sendo até então compensada pelo desempenho das demais economias, em particular as da Ásia.

Mas, diz a instituição, se a economia mundial realmente perder fôlego este ano, como previsto, a taxa de desemprego mundial aumentaria para 6,1% - uma diferença aparentemente mínima em relação aos 6% de 2007, mas que implica 500 milhões de pessoas a mais na fila de emprego.

"O cenário do mercado de trabalho internacional desde ano está marcado por contrastes e incertezas", diz o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. "Ainda que o crescimento global esteja produzindo milhões de novos empregos anualmente, o desemprego continua alto e pode atingir este ano níveis nunca antes vistos."

A OIT trabalha com a previsão de que a economia mundial crescerá 4,8%. No ano passado, quando o mundo avançou ao ritmo de 5,2%, cerca de 45 milhões de empregos foram criados, "não tendo um impacto significativo sobre o desemprego", diz o relatório. Em 2007, o número de desempregados em todo o mundo chegou a estimados 189,9 milhões de pessoas. Em 2006, eram 187 milhões.

"Se o aumento de 5 milhões se confirmar, será o maior crescimento no número de desempregados desde 2003", disse ontem ao Valor Theodoor Sparreboom, economista do Departamento de Tendências de Mercado de Trabalho da OIT. A instituição não detalha em suas projeções quais regiões do mundo ou quais setores da economia seriam mais atingidas pelo aumento do desemprego em 2008. Ano passado, a indústria, ainda que em recuperação, gerou 22,4% dos empregos no mundo; atrás do setor agrícola (34,9%) e serviços (42,7%). Da população em idade de trabalho, 61,7% (ou 3 bilhões) estavam empregados em 2007.

As regiões com as maiores taxas de desemprego ano passado foram Oriente Médio e a parte norte da África (11,8% e 10,9%), seguidas pela América Latina (8,5).

Mas além da perspectiva pessimista em relação ao desemprego este ano, a OIT destaca no relatório intitulado "Tendências Mundiais de Emprego 2008" a preocupação com o que chama de "empregos vulneráveis".

Segundo Sparreboom, 49,9% dos trabalhadores em 2007 estavam em empregos vulneráveis - que não têm vínculos empregatícios, benefícios ou garantias. O percentual mundial de pessoas nessa situação tem diminuído. Uma década atrás, eram 52,8%. "Somente na América Latina houve aumento na fatia de empregos vulneráveis", disse o economista. Em 1997, a parcela de trabalhadores em empregos formais na região era de 31,4%; em 2007, 33,2%. A OIT ainda não tem uma explicação definitiva para este avanço.

Em países em desenvolvimento, em particular, as atividades informais deixam trabalhadores e trabalhadoras vulneráveis à pobreza, a condições de trabalho perigosas e à falta de segurança na área de saúde, diz a instituição. A estimativa é que a renda familiar de 487 milhões de trabalhadores em todo o mundo (16,4% do total) ainda seja inferior a US$ 1 por dia. E de cerca de 1,3 bilhão de trabalhadores (43,5%) inferior a US$ 2.

"Isso mostra mais uma vez que as políticas do mercado de trabalho devem estar no centro das políticas macroeconômicas para garantir que o crescimento seja abrangente e que o desenvolvimento implique gerar empregos bons e decentes", diz Somavia.