Título: Montadoras americanas conseguem elevar preços
Autor: Welch, David
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Empresas, p. B7

Os números ruins de Detroit continuam a aparecer. As vendas domésticas de veículos das "Três Grandes" montadoras locais, a participação de mercado e o quadro de funcionários estão em queda constante há anos. Agora, aproxima-se uma recessão que ameaça prejudicar ainda mais o desempenho financeiro das montadoras dos Estados Unidos.

Uma estatística vital, no entanto, começa a melhorar e poderia representar uma fagulha de esperança: o preço dos carros está em alta. Levando em conta descontos e outros acordos, o preço médio dos veículos vendidos em dezembro chegou ao recorde de US$ 29.230, segundo o site Edmunds.com, que acompanha preços na internet. No mesmo mês de 2006, o valor era de US$ 28.923. Em 2007, o preço por carro foi, em média, US$ 1 mil maior que em 2005.

Pode não soar como uma quantia enorme, mas General Motors, Ford e Chrysler têm vendas combinadas de mais de 8 milhões de veículos por ano. Então, cada US$ 100 adicional por unidade significa mais de US$ 800 milhões em receita extra. O aumento de preço pode ser indicador de que as empresas, cuja produção estava sendo reduzida, enfim, conseguiram aproximar a oferta da demanda, um importante passo em direção à viabilidade financeira no longo prazo.

Desde 2005, as Três Grandes fecharam fábricas capazes de produzir 2,2 milhões de veículos ao ano. Foram anunciados mais cortes, equivalentes a uma produção anual de 1,8 milhão de unidades. Gerar menos carros faz com que as concessionárias não fiquem afogadas em estoques muito elevados, portanto, há menos pressão para fechar negócios com os consumidores. Em dezembro, a Ford promoveu aumento médio de US$ 150 nos preços de tabela, abrangendo quase toda sua linha de produtos. A GM fez o mesmo em vários de seus modelos, também em dezembro.

"Esse é o resultado que desejavam quando cortaram seu excesso de produção", observa Jesse Toprak, diretor de análises de mercado e preços do Edmunds.com. "Começou a dar retorno."

Os consumidores também mostraram aceitação a produtos mais caros. A GM, por exemplo, foi bem-sucedida com seu novo sedã Cadillac CTS. As vendas não subiram apenas em unidades. O valor médio de venda foi de US$ 37 mil, cerca de US$ 8 mil acima do CTS antigo, que saiu de linha no ano passado. O utilitário-esportivo Buick Enclave tem preço de tabela de US$ 37 mil, US$ 14 mil a mais do que o Rendezvous, ao qual substituiu na linha da GM.

Embora Detroit ainda tente atrair consumidores com fortes descontos, as montadoras começam a mostrar mais moderação. Os incentivos oferecidos pela Ford diminuíram aproximadamente US$ 100 nos últimos 12 meses. GM e Chrysler ofereceram descontos de até US$ 3,5 mil por carro em janeiro, valor menor do que as médias dos últimos três anos de ambas as montadoras, de até US$ 4,5 mil.

As Três Grandes também reduziram as vendas para as agências de locação de veículos, que há muito eram a área de despejo para modelos de baixa procura e pesados descontos. As montadoras não apenas venderam menos carros às locadoras, mas também deixaram de comprometer-se a recomprá-los. Portanto, as locadoras começaram a comprar carros com mais acessórios, mais fáceis de revender. O Dollar/Thrifty Automotive Group, por exemplo, anunciou em seu balanço do terceiro trimestre que seus custos com carros aumentaram 25% no ano passado. O resultado foi um aumento para US$ 55 nas tarifas médias de aluguel diário, US$ 10 a mais do que em 2005, segundo a consultora Abrams Consulting Group.

Embora o aumento de preços represente apenas uma pequena boa novidade para as montadoras dos EUA, isso poderia evaporar-se se as montadoras asiáticas começarem a elevar a produção no país. Com uma recessão chegando, no entanto, não há sinais de que planejem fazê-lo.