Título: Jamaica inicia a privatização de usinas
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Agronegócios, p. B13
Emiliano Capozoli/Valor Maria Pia Bastos-Tigre, consulesa honorária da Jamaica no país, diz que o governo deve fazer sua escolha até junho O governo da Jamaica começa a analisar nas próximas semanas as propostas de grupos interessados em participar da privatização de usinas de açúcar daquele país. Dos oito grupos pré-qualificados, dois são brasileiros - Coimex e Infinity Bio-Energy.
Com cerca de 2,4 milhões de habitantes, a Jamaica quer tornar sua indústria sucroalcooleira mais atrativa, sobretudo com a produção em larga escala de etanol. Fortemente dependente da agricultura e da exploração de minérios, principalmente a bauxita, o governo deu início em junho de 2006 a um processo de desestatizar suas usinas.
Segundo a consulesa honorária da Jamaica no Brasil, Maria Pia Bastos-Tigre, as empresas que fizerem as melhores propostas deverão ganhar o processo. O Estado possui seis usinas de açúcar. A produção de etanol é pequena, voltada para as indústrias de bebidas. "O governo pode escolher um ou mais grupos neste processo", disse Maria Pia, que também é sócia de um escritório de advocacia especializado em empresas que investem no exterior.
Para participar do processo, a Coimex firmou acordo com o grupo Cosan nesta pré-qualificação, que deverá ser concluído até o final deste primeiro semestre. A Infinity Bio Energy está concorrendo sozinha. Dos outros oito grupos, um deles é americano (Flo Sun Incorporated), outro de Trinidad e Tobago (Angostura Limited), um indiano (Dhampur Sugar Mills), dois da própria Jamaica (Energen Development e J.Wray & Nephew Limited), e de Bahamas (Stirling Partners).
De acordo com Maria Pia, as empresas caribenhas que participam deste processo estão mais interessadas na produção de bebida - o rum da Jamaica é conhecido internacionalmente.
Para as empresas do Brasil, o país é considerado estratégico para seus investimentos. O país tem acordo de exportação preferencial para União Européia (UE) e para os Estados Unidos, dois mercados fechados para o açúcar e álcool brasileiro. Com a UE, o país tem acordo preferencial para exportar açúcar por fazer parte dos países ACP (Ásia, Caribe e Pacífico). Por esse acordo, a UE importa açúcar de suas ex-colônias pagando quase o dobro do valor do produto no mercado internacional. O país também se beneficia do acordo CBI (Caribbean Basin Initiative). Por meio desse tratado, o álcool da região do Caribe entra nos EUA com isenção de impostos.
Até o dia 18 de fevereiro, as empresas têm de submeter suas propostas ao governo. A previsão do Development Bank of Jamaica (DBJ), banco de desenvolvimento do país que está conduzindo o processo de privatização, é de concluir a operação até junho.
Nenhuma outra empresa que não esteja pré-qualificada poderá entrar neste momento no processo. Segundo Maria Pia, se houver mais grupos interessados, elas terão de se associar com uma das oito já pré-qualificadas, como fez a Cosan. Mas a Cosan poderá desistir do negócio, se for conveniente para o grupo. No início do processo de qualificação, a companhia brasileira Aracatu demonstrou interesse, mas desistiu no meio do caminho. Procuradas, a Coimex e Infinity não comentaram o assunto.
Atualmente, a Coimex e a Crystalsev já atuam no Caribe. A Coimex, inclusive, possui uma usina de desidratação de álcool na Jamaica, em sociedade com a Petrojam, empresa de petróleo local, e a Crystalsev, em El Salvador, em parceria com a Compañía Azucarera Salvadoreña (Cassa) e a multinacional Cargill.