Título: Fundações miram private equity
Autor: Vieira, Catherine ; Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Finanças, p. C1

As recentes turbulências causadas pela crise externa, somadas à perspectiva de queda das taxas de juros no Brasil, devem tornar mais difícil a vida dos fundos de pensão. Uma das saídas para manter as altas rentabilidades dos últimos anos é a diversificação dos investimentos, com busca de ativos mais rentáveis, como crédito corporativo ou fundos investimentos em participação (FIP), conhecidos como private equity.

Os FIPs são fundos que captam recursos no mercado para comprar participações em empresas promissoras com o objetivo de promover o crescimento da companhia para vender a participação com lucro anos depois. Esse tipo de investimento se justifica para as fundações pela necessidade de ativos mais rentáveis e de aplicações mais longas.

Além disso, as fundações devem encontrar já neste ano o cenário propício para começar a ampliar essa participação, explica Fernando Lovisotto, sócio da consultoria RiskOffice. Isso porque, com a crise americana, o mercado está praticamente fechado para aberturas de capital neste momento, ampliando o leque de atuação dos fundos de private equity.

Aliado a isso, as captações e financiamentos externos, que se tornaram mais freqüentes inclusive para empresas de menor porte, tornaram-se mais escassos.

Hoje o investimento dos fundos de pensão em private equity é da ordem de R$ 7 bilhões, segundo estimativa da RiskOffice. Apesar de pequeno frente aos mais de R$ 420 bilhões de ativos investidos pelas fundações, o volume é significativo, considerando que desde 2004 os FIPs foram autorizados a captar cerca de R$ 30 bilhões no país.

A Petros, fundo de pensão dos petroleiros, foi um dos primeiros a apostar mais forte nos fundos de private equity, principalmente naqueles que são focados em infra-estrutura. Nos últimos anos, o fundo aprovou cerca de R$ 1,5 bilhão a serem destinados a esse segmento.

Wagner Pinheiro, presidente do fundo, afirma porém que, deste total, cerca de R$ 350 milhões já foram efetivamente aportados, uma vez que a aplicação só é efetivada quando os fundos fecham uma escolha de projeto para investir. "Ainda há pouco mais de R$ 1 bilhão a ser de fato efetivado." O dirigente não descarta novas aprovações de montantes para aplicar em fundos de participação, mas diz que a prioridade é a efetivação dos montantes que já foram aprovados.

Dos 17 fundos analisados pela Funcef, entidade dos funcionários da Caixa Econômica Federal, cinco são de infra-estrutura, afirma Guilherme Lacerda, presidente da Funcef. Quase todos ainda estão em fase de investimento, que pode superar R$ 1,2 bilhão.

Já a Previ, que tem cerca de R$ 280 milhões aprovados para investimento em fundos de participação, está em fase final de avaliação de novos investimentos nessa seara. Segundo José Reinaldo Magalhães, diretor de investimentos do fundo, o montante total esse ano pode chegar a cerca de R$ 380 milhões caso os investimentos em quatro novos fundos sejam aprovados pela fundação.

A Fundação Real Grandeza (FRG), de Furnas, que já é cotista do FIP Brasil Energia, está analisando novas possibilidades, mas ainda de forma preliminar. Segundo Sérgio Wilson Fontes, presidente do fundo, além de aguardar alguns projetos que Furnas deve apresentar e que serão analisados pela fundação, a idéia é qualificar os analistas da Real Grandeza para avaliar os projetos. "Estamos estudando fazer um convênio com universidades para treinar ainda mais nossa equipe nesse tipo de análise".

Inicialmente, a Fundação Cesp pretende destinar 0,5% do patrimônio, cerca de R$ 60 milhões. "Estamos montando o portifólio lentamente, aprendendo a lidar com esse tipo de ativo", afirma Jorge Simino, diretor de investimentos.

Mesmo os fundos de entidades privadas com patrimônios menores começam a olhar para esses investimentos. "Ainda não investimos por falta de oportunidade", disse Mário Sérgio Ribeiro, diretor da Fundação Promon. Magno José Gonfiantini, presidente da Femco, dos funcionários da Cosipa, diz que ainda é uma novidade que requer análise mais profunda.