Título: Mercado vê vantagens na incorporação da anglo-suiça
Autor: Safatle, Claudia; Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Empresas, p. B7

Enquanto o governo tenta jogar "água fria" nos planos da Vale, ameaçando reprovar a operação através do voto da Previ e da BNDESpar no conselho de acionistas controladores da Valepar, por temer um aumento da internacionalização da empresa, o mercado torce para o negócio dar certo, apesar da débâcle das bolsas. A operação poderá encurtar o caminho para a multinacional brasileira se tornar a número um do setor de mineração, superando a BHP Billiton, caso esta não tenha sucesso em comprar a a rival Rio Tinto.

O fato de as ações da Vale terem continuado ontem em queda nas bolsas de São Paulo (Bovespa) e de Nova York, enquanto os papéis da Xstrata subiram, acumulando aumento de 5,69% em dois dias, com a cotação voltando a 33,6 libras (a mesma de sexta-feira) , sinalizou para analistas que as negociações entre as partes continuam de "vento em popa", apesar do mau humor do Planalto.

Para Felipe Hirai, da ML, que nomeia entre as razões para a Vale comprar a Xstrata o fato da mineradora anglo-suiça ser um dos poucos grandes ativos do setor disponíveis para venda no mundo, uma potencial oferta da Vale pela concorrente vai exigir uma estrutura complexa de débito e equity (ações), incluindo aí a possibilidade da emissão de novas PNAs com direito a tag along (80% do valor pago pela ação de controle).

A Xstrata dará, entre as dez vantagens para a Vale, a de ajudá-la a se tornar a maior empresa diversificada do mercado global de mineração e metais, por ter cobre, carvão e alumínio e presença de negócios em 18 países.

Na oferta de compra projetada pela ML, a Vale fará uma dívida junto a bancos de US$ 50 bilhões para comprar a Xstrata e uma emissão de 1 bilhão de PNAs. O prêmio sobre as ações da Xstrata é estimado em 20%, o que pode levar a uma diluição do valor da empresa em 16%. No caso, não está afastado o risco de perda do grau de investimento pela Vale.

O valor de mercado da Xstrata bateu ontem em US$ 64,3 bilhões na bolsa de Londres, enquanto o da Vale ficou na faixa de US$ 117 bilhões com base no cálculo envolvendo as negociações de suas ações na Bovespa. Com base nas contas da empresa, baseada inclusive nas ações em custódia em Nova York, o valor de mercado da mineradora brasileira atingiu US$ 125,9 bilhões. Neste início de ano, por conta dos vendavais que açoitaram as bolsas, a Vale perdeu quase US$ 40 bilhões em valor de mercado. Em 28 de dezembro, último pregão de 2007, a multinacional brasileira valia US$ 155,4 bilhões.