Título: Alimento pressiona inflação em janeiro
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Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Brasil, p. A4

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de janeiro subiu menos que em dezembro, mas ainda assim preocupa economistas. No mês, a alta foi de 0,7%, ante 0,74% na medição anterior. No acumulado de 12 meses, o índice registra alta de 4,55%, contra 4,36% no ano de 2007. "A variação ficou dentro do esperado, mas ainda assim é muito superior ao que deveria ser para termos uma inflação de ano dentro dos 4,5%", avaliou Rafael Castro, economista da LCA Consultores. Ele estima que a variação média mensal deveria ser de 0,36% para manter a meta do Banco Central (Bacen).

Para Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, o IPCA ainda incorpora os aumentos nos preços do atacado registrados no fim de 2007, mas agora com menor intensidade, o que deve garantir um índice fechado no mês entre 0,55% e 0,60%. "Essa ainda não é uma marca confortável, mas a tendência é de uma inflação mais gorda até março, com pressão de alimentos e mensalidades escolares", afirmou Silveira. A RC prevê para os 12 meses encerrados em março um IPC-A acumulado entre 4,8% e 5%, com desaceleração a partir de abril devido à tendência de queda nos preços de commodities.

Em janeiro, o grupo alimentos mais uma vez contribuiu para a alta da inflação, com variação de 1,96% em janeiro, ante 1,73% no mês anterior, tendo contribuição de 0,42 ponto percentual no IPCA-15. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, observou que foram mais significativas as altas nos preços de produto in natura como tomate (20,91%), frutas (4,97%) e ovos (6,31%), que neste período são mais suscetíveis ao clima. Mas itens de maior peso desaceleraram, como carne bovina (de 8,78% para 4,05%) e frango (de 4,92% para 3,99%). "A desaceleração em carnes, arroz e feijão vai ajudar a conter o IPC-A, que deve ficar em 0,5% em janeiro", disse. Segundo o economista, o desempenho da inflação acumulada em 12 meses até março será fundamental para a definição da política monetária do Banco Central. A MB estima uma inflação em 4,6% em 12 meses até março, ante previsão do Bacen de 4%. "O Banco Central terá que fazer uma correção e, dependendo dos efeitos da crise imobiliária americana, a tendência é que haja elevação na taxa de juros no segundo trimestre", afirmou.

"Se a crise imobiliária dos Estados Unidos se agravar, ela pode provocar fuga de capitais, desvalorização do real frente ao dólar e pressão inflacionária. O quadro ainda não é claro", afirmou Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados. Ele prevê para janeiro leve desaceleração nos preços de alimentos na segunda quinzena, com o IPC-A fechando a 0,6%.

Na semana de 22 de janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) apurado em sete capitais registrou uma alta de 0,98%, 0,06 ponto percentual acima da taxa divulgada na semana anterior. Como era esperado, a variação foi influenciada sobretudo pela alta nos preços de alimentos in natura e pelos reajustes nas mensalidades escolares.

"A pressão foi maior, concentrada em alguns itens. No fim de 2007, houve um aumento muito generalizado em alimentos, principalmente os de maior peso no índice, como feijão e carnes", comparou André Furtado Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Outro fator que contribuiu para a melhora do índice foi a desaceleração nos preços dos combustíveis. Em São Paulo, a gasolina teve queda de 0,05%, ante alta de 0,11% na semana anterior. O álcool variou 2,33%, ante 4,96% no índice anterior. No Rio, a gasolina subiu 0,17%, ante 0,43% e o álcool, 1,53%, ante 2,06% na medição anterior.

Ainda segundo Braz, o comportamento dos alimentos foram responsáveis pelas diferenças do IPC-S nas capitais. Em Porto Alegre, que teve a menor variação (0,48%), hortaliças tiveram queda de 7,08% na semana anterior e de 2,69% nessa semana. Em Salvador, que teve alta de 1,67%, o preço do feijão subiu acima de 50%, a cebola variou 21,33% e o tomate, 19,7%. "A pressão de alimentos ficou dentro da média histórica para o período", afirmou Braz. Conforme a FGV, também registraram alta no IPC-S Brasília (1,17%), Recife (1,07%), Rio de Janeiro (0,94%), São Paulo (0,91%) e Belo Horizonte (0,83%).