Título: Crise pode comprometer ano das fundações
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Finanças, p. C2

O ano passado foi um dos melhores da história dos fundos de pensão e vem completar um ciclo longo de boas rentabilidades. Em 2008, no entanto, as fundações têm pela frente um ano mais complicado. Com a crise externa, os ganhos em renda variável, que vêm permitindo aos fundos superar as metas com facilidade, podem a ficar menores.

Desde o início de 2003, os ativos totais dos fundos de pensão cresceram a uma taxa média de 18% ao ano. Os ativos pularam de R$ 188 bilhões, em dezembro de 2002, para R$ 435,3 bilhões em novembro deste ano. Parte desse avanço se deve à migração para ativos de renda variável, que variam entre 20% e 30% do patrimônio dos fundos.

Por outro lado, com essas carteiras, o rendimento mínimo da bolsa para que os fundos superem as metas é de cerca de 5% no ano. As metas, em geral, são vinculadas a um índice de inflação mais um percentual entre 5,5% e 6%. Os fundos acumularam gordura nos últimos anos que podem compensar anos ruins, mas no longo prazo, Maurício Gentil, diretor da Meta Asset, afirma que as fundações precisam avaliar alternativas.

Segundo ele, os fundos já começaram a se mexer para diversificar os investimentos e minimizar essas dependências, mas que o processo é lento, pois mudanças exigem aprovação das políticas de investimento. "Os anos de rendimento garantido com renda fixa acabaram, mas isso criou uma certa acomodação das estratégias dos fundos".

"O perfil de investimento é de longo prazo o que leva as entidades a tomarem as suas decisões de investimento baseada em uma análise para vários anos e não apenas fatos eventuais que podem ser pontuais", ressalta Reginaldo Camilo, presidente em exercício da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar (Abrapp).

Uma das saídas apontada por ele é justamente a participação maior em empresas. "Acreditamos que a tendência é que os investimentos continuem a ser canalizados para a atividade produtiva. Investimentos em projetos de infra-estrutura, participação em empresas sólidas e outros investimentos cada vez mais estarão presente nos ativos das fundações".

Além dos investimentos em fundos de participação (FIP) o crédito corporativo também está na mira das fundações, seja por meio de debêntures, seja via fundos mezaninos, de direitos creditórios ou de Cédulas de Crédito Bancário (CCB). O Banco Máxima, por exemplo, estruturou recentemente um fundo exclusivo para a Petros de R$ 100 milhões em CCB.

Já na área imobiliária, a Petros dá preferência a ativos que tenham lastro no setor, como Certificados de Crédito Imobiliário (CRIs) ou até ações, já que muitas empresas do segmento foram para a bolsa.

Por ter já um percentual grande em participações e renda variável, a Previ deve continuar buscando oportunidades em ativos de crédito privado, como debêntures ou recebíveis e até mesmo CDBs de bancos de primeira linha. Porém, explica o diretor de investimentos, José Reinaldo Magalhães, a estratégia de alongamento e migração para títulos públicos com lastro em IPCA continua no plano maior da entidade, que está em fase de maior maturidade. (Colaborou Catherine Vieira, do Rio)