Título: Votorantim capta US$ 1,3 bi no exterior
Autor: Júnior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2008, Finanças, p. C3

Anna Carolina Negri / Valor Luis Schiriak, diretor da Votorantim: "Aversão ao risco aumentou muito" Em meio a forte turbulência do mercado financeiro mundial, o grupo Votorantim acaba de concluir sua maior operação já feita no mercado externo, uma linha de crédito de US$ 1,3 bilhão que contou com a participação de 17 bancos estrangeiros.

O financiamento começou a ser desenhado no final do ano passado. Prevendo uma piora do mercado, a idéia da empresa era chegar com a operação para os bancos logo no início do ano. Nos dias 7 e 8 de janeiro já fazia as apresentações ("road show") para as instituições em Nova York. No dia 10, fez em São Paulo.

Os recursos foram captados com juros anuais de 0,70 ponto sobre a Libor, a taxa interbancária de Londres. Segundo Luis Schiriak, diretor financeiro da Votorantim Industrial, taxas semelhantes só vêm sendo obtidas por empresas de primeiro nível de países que são grau de investimento, diferente do Brasil, que ainda é considerado como grau especulativo.

Grandes bancos americanos, por exemplo, conseguem fazer operações no atual cenário turbulento com juros sobre a Libor que variam de 100 a 150 pontos.

Os bancos líderes da operação foram BBVA, Citi, Société Générale e o alemão WestLB. Além deles, outros 13 bancos participaram, incluindo Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ, Fortis, Mizuho, Scotia Bank e o Intesa.

Segundo Schiriak, o empréstimo conseguiu atrair alguns bancos que não costumam trabalhar com Brasil, como o Intesa e o BayernLB, mas que conhecem a Votorantim por causa de apresentações que a empresa vem fazendo há tempos no exterior.

O dinheiro captado vai ser usado para alongar o perfil de dívida da Votorantim. "Teremos papéis de prazo maior com taxa menor", diz o executivo. O prazo médio do financiamento foi de cinco anos, mas uma das tranches chegou a sete anos. Dos US$ 1,3 bilhão captados, US$ 1 bilhão é garantido por pré-pagamento de exportações do grupo (com prazo de 5 e 7 anos); o restante é capital de giro (de 3 anos).

O grupo Votorantim se transformou em grau de investimento em novembro de 2005 pela Standard and Poor's (S&P). Em seguida, Fitch e Moody's também elevaram para a mesma nota, que classifica investimentos não especulativos.

Para Schiriak, o fator de a empresa ter esse rating fez toda diferença nesta linha de crédito. "Só se percebe o valor do investment grade em um momento como o atual", diz. "O mercado está muito difícil, aumentou muito a aversão ao risco", destaca Schiriak. Neste contexto, avalia, os investidores querem os papéis com melhor risco de crédito e quem não tem boa nota, não consegue captar.

Com a conclusão do financiamento de US$ 1,3 bilhão, a Votorantim não tem planos de acessar o mercado externo nos próximos meses. "Não temos mais nada em vista. A estrutura do grupo ficou fortalecida com a atual operação", afirma Schiriak. Com a captação, o grupo está trocando as dívidas com prazo inferior a cinco anos por papéis com pelo menos este prazo.

Entre as operações mais recentes que o grupo fez no mercado externo, há uma linha de crédito de US$ 550 milhões que tinha uma das tranches com 0,60 ponto sobre a Libor, concluída em maio do ano passado. Outra grande captação foi um financiamento que chegou a US$ 1,2 bilhão com juro sobre a Libor de 0,57 ponto feito em 2006.