Título: Lula volta artilharia contra os sindicatos
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Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2011, Política, p. 4

Ex-presidente chama de "oportunistas" os que reclamam do reajuste do salário mínimo proposto pelo governo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participa como convidado do 11° Fórum Social Mundial, em Dacar, Senegal, criticou as centrais sindicais que questionam o aumento do valor do salário mínimo. Lula classificou a categoria de ¿oportunista¿ e cobrou ainda que seja cumprido o acordo firmado pelo governo, que reajusta o piso a partir da soma do índice de inflação do ano anterior à variação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás ¿ o que, este ano, elevaria o mínimo para R$ 545.

Para justificar as críticas, o ex-presidente falou da participação dos sindicatos nos debates sobre o acordo com o Ministério da Previdência, no ano passado, que resultou na fórmula atual de cálculo do mínimo. ¿Isso foi um acordo feito com os dirigentes sindicais. Foi combinado que o reajuste seria feito com base no PIB e na inflação até 2023 para que a gente pudesse recuperar definitivamente o salário mínimo¿, disse.

Lula não comentava o assunto há mais de um mês, mas, na saída do hotel em que se encontrou com o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, falou com os jornalistas presentes e demonstrou sua insatisfação. ¿O que não pode é nossos colegas sindicalistas quererem a cada momento mudar as regras do jogo. Ou você tem uma regra, aprova na Câmara, vira lei e todo mundo fica tranquilo, ou você fica como oportunista¿, reclamou. E completou: ¿Quando a inflação é maior, você quer antecipar, quando o PIB é menor, você quer antecipar. Se é verdade que neste ano o PIB mais a inflação ia dar zero, no outro ia dar 8%. Então tem a compensação¿.

Ele ainda insistiu na participação dos grupos sindicais no acordo de reajuste do mínimo e cobrou uma mudança de postura. ¿Eu penso que seria prudente que os nossos companheiros sindicalistas soubessem que a proposta não é do governo. A proposta é uma combinação entre todos nós. Eu espero que eles façam acordo¿, disse. Lula também rejeitou a possibilidade de atuar como mediador entre representantes do governo e sindicalistas. ¿Não é tarefa minha conversar. É da Dilma e do Congresso¿, destacou.

Secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, que também está em Dacar, compreende a reação dos sindicalistas. ¿É natural que as centrais queiram um aumento maior que a inflação. A nossa pretensão é R$ 580. Caso não consigamos convencer o governo, vamos levar essa luta para o Congresso e para a sociedade¿, alertou.

ANÁLISE DA NOTÍCIA Reencarnação precoce

Igor Silveira

Enquanto estava no poder, Luiz Inácio Lula da Silva repetia, várias vezes, que precisaria de um tempo para ¿desencarnar¿ da Presidência da República antes de dar qualquer palpite sobre o governo de Dilma Rousseff. O processo de desligamento do Executivo foi rápido e, ao que parece, pouco eficaz.

Dois meses após descer a rampa do Palácio do Planalto, Lula vociferou contra os que desafiam sua pupila. E foi justamente contra o meio onde despontou ¿ o sindicalismo ¿ que o petista mirou seus petardos. ¿Ou você tem uma regra, aprova uma lei e fica todo mundo tranquilo, ou você fica como oportunista¿, disparou, referindo-se ao impasse no reajuste do salário mínimo.

Diante de tal reação, os antigos companheiros de centrais sindicais, que brigaram tantas e tantas vezes contra os patrões para garantir um aumento, bem que poderiam dizer: ¿Desencarna, Lula. Saia desse corpo, que ele já não mais lhe pertence¿.