Título: Crise tem impacto reduzido, prevê Petrobras
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Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Finanças, p. C6

Se a crise nos Estados Unidos for "suave e curta", durando uns três trimestres, não terá impacto negativo para a Petrobras e nem para o Brasil, avalia o presidente da empresa, Sergio Gabrielli, que ontem em Davos procurava propagar otimismo sobre a conjuntura brasileira.

No caso de crise mais grave, ele aposta que os efeitos também serão menores sobre o país. Partidário da tese do ''deslocamento'', argumenta com dinâmica do mercado interna e menor dependência das exportações em relação ao mercado dos Estados Unidos.

''Do ponto de vista financeiro, provavelmente vai ter um aumento relativo de custo para captação para as empresas brasileiras, mas dificilmente para a Petrobras'', disse.

A forte queda nas ações da empresa, na derrocada da Bovespa nos últimos dias, é vista como ''efeito pequeno de ajuste de portfólio'' de alguns investidores, mas acredita que a cotação se recuperará logo.

Gabrielli atribuiu a ''condições técnicas que não podem ser previstas'' o anúncio da descoberta do campo de Júpiter na terça-feira, em plena derrocada da Bovespa foi uma coincidência. Contou que os testes foram concluídos no domingo, e na segunda-feira a sonda saiu do lugar porque estava no limite operacional.

''Por isso, fizemos o comunicado na terça-feira. A lei brasileira obriga comunicar a ANP em 72 horas no máximo depois de qualquer descoberta'', afirmou.

Para o executivo, na crise atual o governo brasileiro não tem mesmo e nem deve fazer nada neste momento, notando que ela é ''provocada por um problema de ajuste de riqueza para o consumidor americano, com impacto bancário do credito a credores de alto risco''.

''Nos últimos dois anos falava-se que a crise estava nos países emergentes. E o que se mostrou é que a crise estava era nos EUA'', disse, retomando os argumentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Davos, Gabrielli deixou claro que a Petrobras não muda seus planos em razão da enorme incerteza internacional, que nos últimos dias tem provocado a queda do preço também do barril de petróleo.

Primeiro, a empresa tem seus planos baseados em barril a US$ 35, bem abaixo dos quase US$ 90 atualmente no mercado internacional. Além disso, não vê problemas de acesso a crédito.

Exemplificou que este mês, em plena turbulência, a Petrobras fez '' uma das melhores captações da historia em um momento de grande demanda'', pagando taxa de 5,38% na captação de US$ 750 milhões.

A empresa não planeja fazer novas captações no curto prazo, mas alertou que sua atividade nessa área é ''oportunística''. Em todo caso, apoia-se no seu caixa ''muito forte''. A expectativa é de geração de US$ 105 bilhões de caixa livre até 2012, depois do pagamento de dividendos.

Gabrielli indicou que a revisão do plano qüinqüenal de investimentos, a ser anunciado em meados do ano, poderá aumentar as cifras em razão das descobertas dos campos de Tupy e Júpiter. Este ano, são US 25 bilhões, totalizando US$ 112 bilhões em cinco anos, pelos planos atuais.

Gabrielli disse que, em encontros em Davos, está estimulando fornecedores a se instalarem no Brasil. A Petrobras tem 55 mil contratos, 30 mil com companhias estrangeiras. A maior parte das licitações são internacionais. Para a plataforma-52, foi exigido conteúdo nacional de 65%, mas com a instalação de alguns fornecedores no país a cifra foi acima de 70%.

''Há um evidente movimento de entrada de empresas estrangeiras no mercado brasileiro. Temos um dos maiores orçamentos de investimentos do mundo e isso deve aumentar com o os novos campos de Tupi e Júpiter'', disse.

Este ano, a Petrobras tem encomendas que podem chegar a US$ 12,6 bilhões para o mercado interno, acima do montante de 2007, e acha que vai aumentar.

Ele evita, porém, dimensionar quantas empresas poderiam se instalar no país. A empresa tem 454 projetos acima de US$ 25 milhões e mais de 1500 abaixo desse valor. Admirada na cena internacional, a Petrobras reiterou em Davos que deve aumentar sua produção dos 2,3 milhões de barris/dia atualmente para 3,2 milhões em 2012, incluindo sua participação externa.

No ano passado, a empresa aumentou em 540 mil a capacidade de produção, mas o aumento não acompanha essa expansão por causa do declínio de velhos poços, entre 7% a 10% ao ano.

Os principais países importadores de petróleo, incluindo os Estados Unidos, Japão e União Européia, vão ter uma reunião extraordinária, hoje, em Davos. O pano de fundo é a crescente preocupação com a escalada dos preços do petróleo e a piora nas perspectivas para a economia global. Neste mês o petróleo atingiu o patamar recorde de US$ 100 o barril. O encontro antecede a reunião da Opec, que reúne os produtores de petróleo, que acontece na próxima semana, em Viena.

"Todos estão preocupados com o impacto dos atuais preços do petróleo. Os principais governos estão preocupados com a situação de mercado", disse uma fonte do setor.

O secretário de energia do governo americano, Sam Bodman, alertou, ontem que os preços do petróleo, além de pressionar a inflação estão começando a prejudicar o crescimento da economia dos Estados Unidos.

"Nossa economia tem suportado a corrida dos preços, mas o barril a US$ 100 está começando a afetar o nível de atividade", afirmou Bodman em um fórum no Cairo. (AM, com agências internacionais)