Título: Indústria tem expansão real de 2% em 2007, abaixo das expectativas
Autor: Madureira , Daniele
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Empresas, p. B4

Depois de um primeiro semestre eufórico, em que as vendas reais da indústria alimentícia cresceram 4,5%, o setor fechou 2007 abaixo das expectativas. Dados preliminares elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), com exclusividade para o Valor, apontam que as fabricantes de alimentos e bebidas registraram no ano passado um faturamento de R$ 230,7 bilhões, com aumento nominal de 10,7% sobre o ano anterior. O crescimento real, porém, ficou na casa de 2,16%, abaixo dos índices de 3,78% e 3,26% observados nos anos de 2006 e 2005, respectivamente.

"As empresas sofreram o impacto do aumento do preço das commodities agrícolas no segundo semestre, o que comprometeu em parte os lucros", afirma Edmundo Klotz, presidente da Abia e diretor da divisão de agroindústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para 2008, no entanto, as perspectivas são boas. "Os preços das matérias-primas já voltaram a cair e temos chance de fechar o ano com um aumento real de 5% na produção", diz o executivo, lembrando que em 2007 a alta na produção foi de 3,47%. Quanto às vendas reais, Klotz não arrisca prognósticos. "Atravessamos uma crise mundial e não se sabe qual será a repercussão sobre a cotação do dólar", afirma.

Amílcar Lacerda, gerente do departamento de economia e estatística da Abia, afirma que o custo das matérias-primas agropecuárias cresceu 43% em média no ano passado, pressionado especialmente por milho, boi gordo, leite, óleo bruto de soja e feijão. "Houve também a restrição imposta pela Argentina à venda do trigo, estabelecendo um imposto de exportação de 28%, o que obrigou os fabricantes brasileiros a buscarem o grão em outros mercados, pagando mais caro por isso", diz Lacerda.

Além disso, afirma o gerente, o custo das embalagens aumentou 11%, motivado pelo preço dos metais não-ferrosos. Outro fator apontado pelo executivo para o crescimento "regular" de 2007 está relacionado ao aumento da renda, o que incentivou o consumidor a investir em bens duráveis. "Isso levou à substituição do produto por marcas mais baratas ou até mesmo à suspensão da compra de alguns itens", afirma.

Com a queda do dólar, os alimentos importados ganharam espaço. A compra de industrializados estrangeiros cresceu 30,7% em valor, atingindo US$ 2,47 bilhões (o equivalente a R$ 4,8 bilhões). Em volume, o aumento foi de 15,6%, para 2 milhões de toneladas. As exportações, por sua vez, cresceram 4% em volume, para 44,5 milhões de toneladas. A receita com os produtos brasileiros no exterior chegou a US$ 26,6 bilhões (R$ 51,8 bilhões), com alta de 17,2% sobre 2006. Os principais produtos exportados foram carnes e derivados, farelo de soja, óleos e gorduras, suco de laranja e açúcares.

A queda nas exportações dessa última categoria, por sinal (da ordem de 16,8%) provocou a única retração no faturamento dos segmentos alimentícios classificados pela Abia. A receita de açúcares caiu 25,3%, para R$ 16,15 bilhões. "A variação dos preços do açúcar no mercado mundial prejudicou o segmento", diz Lacerda. O mesmo motivo limitou, segundo o gerente da associação, o crescimento da categoria de café, chá e cereais. Todos os demais segmentos alimentícios registraram alta de dois dígitos no faturamento de 2007.

As operações de fusão e aquisição entre as empresas do setor somaram R$ 12,25 bilhões no ano passado, segundo a Abia. A liderança ficou a cargo do segmento de açúcar e álcool (30% do valor), seguido por bebidas (28%), carnes e derivados (25%) e laticínios (0,3%). O restante (16,7%) ficou com subsetores, menos representativos.