Título: HSBC vê cenário positivo para o Brasil
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2008, Finanças, p. C7

Julio Bittencourt / Valor Emilson Alonso, presidente do HSBC para o Brasil e América Latina: "Já vínhamos nos preparando para um cenário de maior volatilidade. Esperamos que possa haver alguma redução no ritmo de crescimento" A crise em conseqüência de ajustes na economia dos EUA, que vem chacoalhando os mercados e promovendo um alerta global, pode reduzir um pouco o ritmo de crescimento da economia brasileira em 2008 e afetar alguns outros indicadores. Isso não será, no entanto, necessariamente ruim. Esta é a avaliação do presidente do HSBC, Emilson Alonso, para quem a inflação preocupa mais que um ritmo menos acelerado do nível de atividade.

"Já vínhamos nos preparando para um cenário de maior volatilidade. Esperamos que possa haver alguma redução no ritmo de crescimento, ou seja, se não crescer algo como 5% pode crescer 4%, por exemplo, o que não é exatamente ruim para o país, porque já se começava a ter um problema de inflação, de excesso de demanda", analisa ele. "E isso tudo, com um crescimento mais ajustado, acaba permitindo que essa expansão seja mais consistente, sustentada", completa Alonso. Ele esteve no Rio para a inauguração do "call center" da Losango, em parceria com a Atento, que funciona no antigo pregão da Bolsa do Rio, com 444 postos de atendimento.

A inflação, diz Alonso, é o pior mal, principalmente no seu segmento. "Ela destrói o negócio, principalmente quando você está com uma operação de 'consumer finance' e pessoa física, porque corrói o salário e o poder aquisitivo", afirma o executivo. Ou seja, melhor crescer num ritmo que esteja mais adequado do que se expor a eventuais armadilhas de um crescimento mais acelerado.

Com isso, admite o presidente do banco inglês para o Brasil e América do Sul, o crédito também poderá ter uma expansão menos eufórica. Alonso conta que, em 2007, o segmento de crédito no HSBC cresceu cerca de 30%. "Em 2008, acho que podemos não crescer mais que esses 30%, mas pode crescer 22% ou 25%, o que ainda é um belo resultado", prevê o executivo.

Alonso também avalia que com o corte de juro promovido pelo Fed e mantida a Selic inalterada aqui, o país ganha em atratividade em relação aos fluxos externos. "A economia vai ser um pouco mais desafiadora esse ano, talvez o mercado de capitais não seja tão pródigo e haja algum impacto sobre a balança, mas os fundamentos do Brasil são corretos, temos um cenário administrável", diz Alonso.

Em meio a esse ano mais desafiador ele admite que está a concorrência crescente no setor bancário, porém não trata o assunto como novidade, apesar da aquisição do ABN pelo Santander em âmbito global. "Não é só por causa disso que a concorrência é crescente, todos os bancos com operação de varejo vem convergindo para os mesmos caminhos e estratégias: cartão, consignado, financiamento de automóvel, compra de folha de pagamento, parceria com varejista entre outras coisas, e isso beneficia o consumidor", diz ele.

Para Alonso, porém, todos terão um desafio maior que são as novas regras para as tarifas bancárias. "Todos teremos que nos adaptar. Nós vamos apertar mais o cinto, economizar e ser mais eficientes, buscar uma melhor seleção de crédito", avisa ele, lembrando que o banco já vem fazendo isso desde 2006. "Nossas perdas de crédito caíram com a estratégia de migrar para áreas de menor risco". Alonso afirma que apesar de esperar um ritmo menos intenso da atividade econômica no país, não vê no cenário por enquanto uma crise que afete o emprego, por exemplo, o que, aí sim, poderia preocupar mais. "Mas vamos estar atentos, faz parte acompanhar e se adaptar para os cenários".

Além do crescimento do crédito, Alonso destaca que, no segmento de pessoa física, a rede de distribuição também teve um desempenho acima da média de outros dentro do próprio banco, principalmente com a venda dos chamados produtos de "consumer finance". Ele avalia também que a integração da Losango tem sido importante não apenas pelos resultados que a própria gera, que representam cerca de 10% do banco, mas pelos conhecimentos e sinergias que vem agregando em vários nichos. Outra área que se destacou no ano passado, diz Alonso, foi a de administração de recursos.

Para 2008, o segmento Premier deve ser um nicho que vai receber bastante atenção, já que hoje são 36 agências com esse perfil - os Premier Centers - e devem se multiplicar para 96 num prazo de 12 a 18 meses. Ele explica que não necessariamente serão novas agências, algumas podem apenas mudar o perfil. Em 2007, o HSBC manteve o número de agências estável, segundo o executivo.

Além disso, o banco quer continuar investindo no desenvolvimento da área de mercado de capitais, tanto voltada para pessoa física (corretora, equipe de análise e homebroker) como na área de estruturar operações de fusões e aquisições e captações para empresas. Também o chamado "consumer finance" vai buscar crescer como, por exemplo, com cartões. Já o segmento de folha de pagamento, ele crê que ficou menos interessante. "Temos feito com algumas empresas privadas, mas em geral perdeu a atratividade, os preços estão fora da realidade", avalia.

Em resumo, Alonso diz que vai continuar buscando o crescimento orgânico consistente que vem sendo obtido nos últimos anos. "Crescemos cerca de 260% ou 38% ao ano do fim de 2003 ao fim de 2007 nos ativos com clientes, os que dão dinheiro, e isso foi organicamente", contabiliza ele. Mas e as compras? "Para isso tem que convencer alguém de vender. Há escassez de ativos. Estive com o pessoal de estratégia e o board esteve aqui, eles estão muito satisfeitos com o Brasil, mas o que eu vou comprar aqui? Não tem", despista ele. "Então, não vamos pensar na morte da bezerra e sim continuar trabalhando para crescer, olhando rentabilidade, penetração nos segmentos, inovação, buscando incomodar os concorrentes", conclui.