Título: Órgãos antitruste do Japão e Europa já analisam fusão de BHP e Rio Tinto
Autor: Matthews, Robert Guy; Moffett, Sebastian
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Brasil, p. A2

Autoridades antitruste do Japão e da Europa estão estudando a proposta de fusão entre as gigantes mineradoras BHP Billiton e Rio Tinto para determinar se a elas não ficariam com poder demais sobre o preço do minério de ferro, ingrediente vital na produção do aço.

Ainda não foi iniciada uma investigação oficial, mas agências de defesa da concorrência começaram discussões informais prevendo aumento de oposição ao negócio por parte de siderúrgicas e outros consumidores de minério de ferro, preocupados com a possibilidade de a fusão levar à existência de só dois grandes fornecedores do mineral, o segundo sendo a Vale.

Na terça-feira, a BHP apresentou uma oferta melhor pela Rio Tinto, toda ela em ações, avaliada pela BHP em US$ 147,4 bilhões. O conselho da Rio Tinto rejeitou a proposta, pressionando a BHP a aumentar ainda mais sua oferta.

A União Européia e o Japão têm um acordo antitruste bilateral, por isso não é raro as agências estarem trabalhando juntas. Tanto a entidade japonesa quanto a da UE informaram que ainda não chegaram a uma decisão porque é muito cedo e elas ainda não têm todas as informações necessárias. Um porta-voz da UE disse que ela "coopera rotineiramente com outras jurisdições" a respeito de grandes fusões.

A BHP disse que sua proposta de aquisição da Rio Tinto deve receber aproximadamente cem aprovações regulamentares de diferentes jurisdições que cobrem determinadas áreas ou produtos e minérios. A empresa disse que o processo de aprovação pode levar nove meses.

O Japão é particularmente vulnerável a qualquer possível impacto negativo da fusão porque tem poucas reservas de minério de ferro e depende quase completamente de importações para produzir aço. Mas autoridades da UE em Bruxelas também estão muito interessadas na fusão porque as siderúrgicas européias dependem muito do minério exportado pela Rio Tinto e pela BHP.

A comissão japonesa de defesa da concorrência disse que está juntando informação de várias partes sobre o impacto da possível fusão, mas não pôde dar detalhes sobre isso. Separadamente, Hajime Bada, diretor-geral da JFE Steel e líder do grupo de lobby da indústria do aço japonesa, fez discurso quarta-feira no qual falou sobre a fusão. Disse que a indústria tenta persuadir a comissão japonesa a agir.

Gordon Moffat, diretor-geral da Eurofer, entidade de lobby e comércio exterior de aço da Europa, disse que sua entidade entrou em contato com a Comissão Européia e apresentou argumentos para impedir a fusão. "Passar de três para só dois (fornecedores de ferro) não é mesmo do interesse da siderurgia", disse Moffat.

Para a BHP, a fusão não resultaria em aumento de preço do ferro e sim ajudaria a contê-lo pela possibilidade de trazer mais minério de ferro para o mercado de maneira mais eficiente e rápida. O preço do minério de ferro aumentou em parte porque a BHP, a Rio Tinto e a Companhia Vale do Rio Doce, não conseguem colocá-lo no mercado no ritmo necessário.

O que preocupa as siderúrgicas, no entanto, é que mesmo sem a fusão espera-se que o preço suba por causa da forte demanda da China, da Índia e de outras economias emergentes. Este ano, calcula-se que as siderúrgicas paguem 70% a mais pelo minério de ferro.

A UE já demonstrou preocupação antes com fusões menores. Em 2001, autoridades da UE fizeram isso em relação à aquisição da Caemi, mineradora de ferro brasileira, pela mesma BHP. Dizendo que a negociação poderia reduzir de quatro para três o número de grandes exportadoras internacionais do minério, a UE questionou se, nesse caso, a indústria siderúrgica européia "poderia exercer poder de compra significativo".

A Mitsui & Co. Ltd, do Japão, exerceu um direito de primeira recusa para adquirir o controle da Caemi, o que tirou a BHP do negócio, e em seguida vendeu 50% à Vale. Autoridades da UE também alertaram sobre redução de competição, mas acabaram aprovando o negócio depois de as empresas concordarem em vender ativos de ferro da Caemi no Canadá. No final, a Vale comprou toda a Caemi.