Título: Mercado interno exige reposição de estoques e ajuda calçadistas e têxteis
Autor: Lamucci, Sergio; Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Brasil, p. A3

A reposição de estoques movimentou a indústria de bens de consumo semi-duráveis em janeiro. Os fabricantes de calçados e têxteis registraram alta de vendas em janeiro, apesar do câmbio, que continuou atrapalhando as exportações. Ao mesmo tempo, a renda interna ajudou a impulsionar a indústria de alimentos e bebidas.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apontou leve alta de 1% nas exportações de janeiro em comparação com o mesmo mês de 2007, para US$ 169 milhões, e as perspectivas também são favoráveis no mercado interno. A West Coast, de Ivoti (RS), registrou crescimento de 8% na produção do mês passado em relação a janeiro de 2007, revela o gerente de marketing, Sérgio Baccaro Júnior. O desempenho foi equivalente no mercado doméstico (que absorve 70% dos volumes) e nas exportações.

Segundo Baccaro Júnior, as boas vendas de Natal estimularam a reposição de estoques no início do ano e a indústria de 350 funcionários prevê elevação de 20% na produção do primeiro trimestre, beneficiada ainda pela antecipação do Carnaval e Páscoa. Para o acumulado de 2008, a meta é crescimento de 41%, para 2,4 milhões de pares, considerando a demanda mais forte por produtos femininos de verão no segundo semestre.

Mais conservadora, a Abicalçados trabalha em 2008 com cenários de estabilidade nas exportações e de "ligeira alta" de produção e consumo no mercado interno, diz o diretor executivo Heitor Klein. Segundo ele, a desaceleração econômica dos EUA preocupa, mas a participação do país caiu de cerca de 90% para 37,5% do valor das exportações brasileiras do setor nos últimos quatro anos.

No segmento têxtil e de confecções, a expectativa é de um primeiro trimestre positivo, mas sem grande otimismo. O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, explica que as perspectivas relativamente positivas decorrem das boas vendas no fim de 2007 e ao fato do varejo não ter estoques remanescentes do inverno passado.

Para a Guararapes, fabricante da Coca-Cola para Pernambuco e João Pessoa, o ano começou melhor do que o esperado. A empresa projetava crescimento de 3% no volume vendido de bebidas em janeiro ante igual mês de 2007, mas encerrou o período com elevação de 5%. "Superou nossa expectativa, mas foi inferior ao aumento que vinha acontecendo no ano passado, que foi de dois dígitos", diz Luís Delfim, presidente da Guararapes.

O executivo explica que as vendas mais fracas podem ser explicadas por um comportamento do consumidor que começou a ser notado em 2007: a migração das compras para produtos semi-duráveis e duráveis, favorecidos pela grande oferta de crédito. Entretanto, Delfim afirma que a crise econômica americana pode acabar ajudando nas vendas do setor. "Se o crédito ficar mais caro e restrito, as pessoas voltarão a consumir mais bens não-duráveis", avalia.

Apesar de iniciar o ano com alta nas vendas, a São Braz, fabricante paraibana de alimentos, está com números abaixo das perspectivas. Em janeiro, a comercialização subiu 20% em volume na comparação com igual mês do ano passado, abaixo dos 25% projetados. Para Frederico Dominguez, gerente de marketing da São Braz, o problema foi a elevação dos preços das commodities agrícolas. A empresa produz café, biscoitos, massas para bolo e farinhas de milho. "Tentamos repassar para os preços, mas o consumidor está se retraindo. Vamos ter de sacrificar as nossas margens", explica ele.

Dominguez espera chegar ao fim do primeiro trimestre com um aumento igual aos 25% do ano passado. A crise americana, diz, não foi sentida. "Por enquanto, o temor é mais psicológico".