Título: Indústria aumenta produção em janeiro e vê trimestre positivo
Autor: Lamucci, Sergio; Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Brasil, p. A3

Magdalena Gutierrez/ Valor Carlos Loureiro, da Rio Negro: distribuição de aços planos pode crescer 12% no primeiro trimestre Depois do forte crescimento de 2007, a economia brasileira começou o ano num ritmo forte. Estimulada pelo movimento de recomposição de estoques, vários segmentos da indústria tiveram um janeiro bastante positivo. Em alguns casos, como o de aços planos, o desempenho superou as expectativas. Ainda assim, a percepção dominante no setor privado é de que haverá algum arrefecimento no ritmo de aumento da produção e do consumo na comparação com os percentuais registrados no ano passado. O agravamento da crise americana, por sua vez, não afetou os negócios no Brasil.

O indicador de atividade do banco ABN Amro Real de janeiro apontou índice de 54,7, o mais baixo em oito meses, o que revela que a produção cresce, mas em ritmo um pouco menor - o dado acima de 50 indica crescimento frente ao mês anterior. Em dezembro, o índice ficou em 55,3. Conforme o estudo, os estoques de bens finais (49,0) e de insumos (48,5) permaneceram baixos e o número de novos pedidos (55,4) cresceu.

O diretor-presidente da Rio Negro, Carlos Loureiro, informa que o segmento de distribuição de aços planos cresceu cerca de 14% em relação ao mesmo mês de 2007. "Janeiro começou mais forte do que imaginávamos", diz Loureiro, que apostava em 10% de alta. Os setores que puxaram o crescimento em 2007 seguem firmes na demanda: automotivo, construção civil e máquinas e equipamentos. Em 2007, a distribuição cresceu 26%. Como janeiro superou as expectativas, Loureiro elevou a projeção para o trimestre de 10% para 12%.

Em janeiro, o número de emplacamentos de veículos aumentou 41% e muitas empresas postergaram as férias coletivas. Para Sérgio Reze, presidente da a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), isso sinaliza que o mercado está aquecido, mas esse ritmo não será mantido até o fim do ano. Ele espera que mercado cresça 20% neste ano, menos que os 30% no ano passado.

No Pólo Industrial de Manaus, ainda não há números fechados referentes a janeiro, mas o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Maurício Loureiro, acredita que a produção tenha crescido pelo menos 5% em relação ao janeiro de 2007. Segundo ele, houve recomposição de estoques em alguns segmentos, como os de duas rodas, relojoaria e informática e xaropes para industrialização. Para ele, o primeiro trimestre tende a fechar com expansão de 5% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, o que, se confirmado, seria um resultado positivo.

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) fecha na próxima semana o balanço sobre as atividades de janeiro e o IBGE divulga hoje os dados fechados de dezembro de 2007. Humberto Barbato, presidente da Abinee, adianta que as vendas do setor foram aquecidas em janeiro, destacando-se os setores de informática e energia elétrica. A entidade mantém projeção de crescimento neste ano de 9% - contra 18% em 2007 - com resultados mais significativos neste semestre. Segundo ele, a possível crise americana já provocou reação nas indústrias. "A demanda segue igual, mas já há um interesse das indústrias em reduzir custos e ganhar competitividade, com aumento de importações e aumento da capacidade sem novas contratações."

Na Indústria de Papel e Papelão São Roberto, a produção ficou estável em janeiro, dentro da expectativa do presidente da empresa, Roberto Nicolau Jeha. Ele espera um crescimento para o primeiro trimestre de 1% a 2% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Braskem, no Pólo Petroquímico de Camaçari, funcionou a plena carga neste início de ano, segundo Manoel Carnaúba, vice-presidente da unidade de insumos básicos. Ele conta que apenas uma unidade produtiva do complexo teve uma interrupção causada por problema técnico e não por demanda mais fraca. "A produção foi a que tínhamos planejado, igual a de janeiro do ano passado e os clientes continuam fazendo pedidos", explica o executivo. Segundo ele, ainda não há preocupação com o cenário externo e nem com as conseqüências que a crise da economia americana possa trazer ao Brasil.

A indústria de cerâmica de Santa Catarina também teve um bom começo de ano, de acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Criciúma e Região (Sindiceram), Otmar Müller. As vendas no mercado interno em janeiro de 2008 foram 17% acima da média mensal de todo o ano passado. Ele prevê manutenção desse ritmo no trimestre. "Esses números refletem o maior investimento no setor de construção civil realizado em 2007 e que até então só era perceptível em outros segmentos, como fornecedores de aço, tubos e conexões."

No mercado externo, já sentindo desaquecimento dos clientes americanos, as indústrias do sul de Santa Catarina tiveram vendas 12% menores em janeiro, comparadas com a média mensal de 2007.

Rogério Sampaio, presidente da Cecrisa, também aponta para o bom desempenho do mercado interno em janeiro. As vendas cresceram 30% frente ao mesmo mês de 2007 e deram perspectivas de um bom ano pela frente. Ele destaca que o desempenho reflete a chegada do "boom" da construção civil do país ao setor de acabamentos. No mercado externo, a empresa teve receita 25% menor em janeiro, situação em parte creditada à diminuição das vendas aos EUA.

O comércio de construção civil apresentou desempenho diferente dos demais. O excesso de dias chuvosos em São Paulo - que representa 40% do mercado consumidor de construção - esfriou o ânimo dos compradores e as vendas tiveram queda de 6% em relação a janeiro de 2007, de acordo com dados preliminares da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).

Cláudio Elias Conz, presidente da entidade, não vê o resultado como tendência. Ele prevê alta de 7% nas vendas de materiais de construção no primeiro trimestre e, para o ano, expansão de 9% - superior aos 8,5% do ano passado. "As chuvas adiam as compras, mas as obras continuam. O que não foi vendido em janeiro, será vendido a partir deste mês", diz. (Colaborou Raquel Salgado, de Salvador)