Título: Infra-estrutura ganha espaço no BNDES
Autor: Durão, Vera Saavedra; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Brasil, p. A4

Silvia Constant/Valor Luciano Coutinho, presidente do BNDES: estratégias para 2009 e 2010 Os desembolsos do BNDES atingiram R$ 64,9 bilhões em 2007, 24% acima dos efetuados em 2006, um novo recorde histórico. "Cumprimos o orçamento. Fechou raspando a trave", disse Luciano Coutinho, presidente do banco, que informou que já trabalha com um portfólio de R$ 80 bilhões para este ano, "sem problemas de recursos". O maior crescimento foi em recursos para a infra-estrutura: 62%.

Segundo ele, o BNDES já está negociando mais R$ 15 bilhões para completar seu funding deste ano. "Nossa preocupação agora é com o montante de recursos para 2009 e 2010. Nosso foco é elaborar estratégias para este biênio, pois o montante de R$ 117 bilhões em projetos enquadrados em 2007 aponta para um 2008 que já está dado", afirmou. O projeto do banco para os próximos três anos visa apoiar a indústria de insumos da construção civil e revitalizar a indústria de bens de capital.

O desempenho da instituição em 2007 confirmou, segundo Coutinho, a "magnífica performance" da economia brasileira no período e acentuou a forte demanda por investimentos em infra-estrutura. Em 2007, as aprovações para este setor subiram 104%, para R$ 45,7 bilhões, ante R$ 24 bilhões um ano antes. Os desembolsos aumentaram 62%, de R$ 17 bilhões para R$ 25,6 bilhões. Os campeões da infra-estrutura têm sido energia elétrica e petróleo e gás, que vão continuar liderando o portfólio do setor, segundo o banco.

A expectativa do BNDES é que este ano a consolidação de projetos em energia elétrica continue. "Considerando apenas os projetos das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio (do rio Madeira), a carteira de energia deve dar um salto grande, sem contar as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e os projetos de co-geração e de energias alternativas", informou o presidente do banco. Não faltará energia para assegurar o firme crescimento econômico nos próximos anos", disse Coutinho.

A área de indústria absorveu R$ 26,4 bilhões em recursos do banco no ano passado, mas apresentou queda de 2% ante 2006. Coutinho destacou que excluindo as exportações do Exim desta conta, a área de indústria cresceu 39% nos desembolsos, totalizando R$ 19,8 bilhões, e 43% nas aprovações, somando R$ 31,4 bilhões. "Esses números revelam que há um crescimento firme da formação bruta de capital fixo (investimento) na indústria, o que é atestado pelo crescimento das operações da Finame (venda através de agentes financeiros de bens de capital para o setor industrial), que atingiram R$ 20,5 bilhões em 2007, ou 59% a mais que em 2006", disse.

Para ele, esses dados da indústria e da Finame revelam que "há um ciclo de investimentos em capital fixo na indústria, fundamental para assegurar estabilidade de preços a longo prazo". Além do aumento expressivo do valor liberado, o número de operações Finame cresceu 48% em relação ao ano anterior, chegando a 81,6 mil operações.

O setor de insumos básicos tem um papel fundamental no esforço de aumento da oferta para evitar pressão sobre os preços dos insumos industriais. A carteira de projetos da área de insumos básicos do banco para os próximos três anos soma R$ 133 bilhões, contou Wagner Bittencourt, diretor da área, que envolve mineração, metalurgia, siderurgia, química e petroquímica e papel e celulose. "É um crescimento expressivo de investimento em capital intensivo", destacou Coutinho.

Ele disse que, este ano, o BNDES pretende apoiar fortemente também os projetos de insumos para construção civil. "A construção está entrando num círculo de expansão poderoso, que será um dos sustentáculos do crescimento brasileiro nos próximos anos", afirmou. A indústria de bens de capital também será uma das prioridades do BNDES para aumentar a produção em cadeias relevantes, como petróleo, siderurgia e bens seriados. "Temos de aproveitar as oportunidades desse ciclo de investimento para crescer e evitar que a demanda por esses bens seja preenchida apenas por importação. O Brasil tem de revitalizar sua indústria de bens de capital", afirmou o presidente do BNDES.

Para ele, é importante olhar para trás, mas principalmente para a frente, mirando a carteira do banco de enquadramentos na perspectiva de fortalecer a formação bruta de capital fixo para que a economia brasileira cresça desligada da dependência internacional. Ele garantiu que não faltarão recursos ao banco, que tem muita flexibilidade, incluindo a carteira de renda variável. "Mas não vamos vender ações de empresas estratégicas, como a Vale a a Petrobras."

Na área social, o banco pretende continuar investindo em saneamento básico, incluindo um pacote de urbanização em favelas e vai reforçar empréstimos para habitação, junto com a Caixa Econômica Federal. Também serão reforçados empréstimos para transporte urbano, como novas linhas de metrô. (* Valor Online, do Rio)