Título: CNI prevê continuidade do ritmo de crescimento
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Brasil, p. A4

A indústria encerrou 2007 utilizando, em média, 83% da capacidade instalada. Considerando resultados dessazonalizados, esse foi o segundo maior uso desde o início da série histórica medida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em janeiro de 2003. O recorde foi batido em novembro do ano passado, com 83,1%. Comparando-se os meses de dezembro de 2006 com o de 2007, houve aumento de 1,5 ponto percentual.

Paulo Mol, economista da CNI, reconheceu que a preocupação do Banco Central (BC) com o uso da capacidade instalada é legítima porque o índice está alto, mas ponderou que o ritmo da indústria é mais acelerado no segundo semestre. Assim, a preocupação seria prematura. Além disso, argumentou, a indústria opera hoje com menos ociosidade que nos anos 70 e 80 porque a tecnologia assim o permite. Portanto, Mol recomendou que as comparações sejam feitas com os anos mais recentes.

Segundo dados da CNI, a indústria automobilística foi responsável por 40% do aumento do uso da capacidade instalada em 2007. Excluído esse segmento, o aumento de 1,5 ponto percentual sobre o ano anterior seria reduzido a 0,9 ponto. Mas a baixa ociosidade também autorizou os economistas a esperarem mais investimentos no setor. A confederação informou que o investimento vem aumentando desde o último trimestre de 2006, com a produção crescendo nesse período.

Mol disse que o início de 2008 mantém todos os fatores positivos que aqueceram a demanda interna em 2007: massa salarial, gastos do governo e crédito. Outro economista da CNI, Renato da Fonseca, também tem projeções otimistas para o primeiro semestre deste ano. "A demanda interna é que está puxando a economia brasileira e ainda é incerto o impacto da crise financeira internacional. Se neste momento fosse feita uma pesquisa com empresários, o otimismo deles não seria muito menor que o mostrado no fim do ano passado. Mas o quadro seria outro se o Banco Central aumentasse os juros."

O aumento da taxa Selic foi uma possibilidade considerada na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom). No documento, o BC admite que já ocorre inflação de demanda. De acordo com as projeções da CNI calculadas no fim de 2007, o Produto Interno Bruto (PIB) deve expandir-se 5% neste ano, o que revela alguma desaceleração. Para 2007, a variação estimada pela entidade foi de 5,3%.

Os indicadores industriais indicaram que 2007 teve variações percentuais ligeiramente inferiores a 2004, mas a base de comparação (2006) é mais alta. Na comparação com 2006, as vendas reais cresceram 5,1%, as horas trabalhadas elevaram-se 4%, o emprego foi 3,8% maior e as remunerações pagas aos trabalhadores cresceram 4,9%.

Para justificar o otimismo com relação ao início de 2008, os economistas da CNI calcularam o que chamam de "efeito carregamento" ou inércia provocada pelo aquecimento verificado no fim de 2007. A conta considera o indicador medido em dezembro e a média apurada no ano passado. Dessa maneira, encontraram fortes "carregamentos" para vendas (4,8%), horas trabalhadas (2,7%) e emprego (2,3%).

As principais marcas verificadas no setor em dezembro foram: regularidade do crescimento das vendas - há seis meses consecutivos -, intensa expansão das horas trabalhadas (1,1% sobre novembro), estabilidade no uso da capacidade instalada e massa salarial crescendo em função da elevação do emprego e não do crescimento real de salários. Fonseca ainda ressaltou que as remunerações foram prejudicadas pelo aumento da inflação e que, naturalmente, a criação de empregos na indústria acaba reduzindo o salário médio.

Os segmentos da indústria que mais contribuíram com o aumento das vendas reais em 2007 (5,1%) foram máquinas e equipamentos, alimentos e bebidas e veículos automotores. Os desempenhos de vendas mais fracos foram para material elétrico, madeira, produtos químicos e material eletrônico e de comunicação.