Título: Sarney indica outro nome para Eletrobrás
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Política, p. A9

Marri Nogueira/Folha Imagem - 22/1/2008 Lobão: nomeação ao ministério fez o maranhense ensaiar "independência" de José Sarney, seu padrinho político A sucessão na presidência da Eletrobrás ficou ainda mais complicada com o surgimento, nos últimos dias, de um terceiro nome: José Antônio Muniz Lopes, ex-presidente da Eletronorte. Muniz Lopes é muito ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP) e surge como uma alternativa ao favoritismo de Flávio Decat, ex-presidente da Eletronuclear e apoiado pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral Filho.

Lopes é a segunda tentativa de Sarney de emplacar o presidente da Eletrobrás. Há duas semanas, ele havia indicado Evandro Coura, presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Energia (ABCE) e presidente do Grupo Rede. Dilma conseguiu barrar a indicação, alegando que não ficaria bem indicar um nome tão ligado à iniciativa privada. Sarney começou a emitir sinais que Coura - apadrinhado informalmente pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) - não era de sua lavra e aparentemente desistiu do cargo.

Só que o senador voltou à ativa e comenta-se no Planalto que, novamente, vai terceirizar a indicação de Muniz Lopes. O nome poderá ser apoiado pela líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). O fenômeno foi batizado pelo pemedebista Eduardo Cunha (RJ) - que teve êxito na indicação de Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas - de "barriga de aluguel. "Fica ruim um político indicar todo mundo. Por isso, normalmente se pede emprestado a barriga de outra pessoa para "gestar" o afilhado", ironizou o deputado fluminense.

No PMDB, a versão é diferente. "Como a Casa Civil e a Presidência estabeleceram que as indicações são do partido, mas devem ser técnicas, a estratégia é apresentar mais de um nome: se ele for vetado, outros aparecem como opção", completou um pemedebista.

Não é só essa dificuldade que impede as definições do setor elétrico. No Planalto informa-se que, animado com a nomeação como ministro de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) tenta ensaiar passos independentes de Sarney. "Como chegou ao Executivo, ele acha que pode respirar e andar com mais desenvoltura", confirmou um petista com bom trânsito nos andares superiores do Palácio. "Uma das alegações é de que ele contou com o apoio também da bancada de deputados do PMDB, o que mostraria independência em relação aos senadores", prosseguiu o petista. "Lobão é um cão fiel a Sarney. Isso é intriga de quem quer tumultuar o processo", reclamou um especialista em política maranhense.

O coordenador político do governo, José Múcio Monteiro deve reunir-se no sábado com Lobão. Eles tentaram conversar na noite de quarta-feira, mas não deu certo. Múcio sonha em, finalmente, começar a definir os nomes dos indicados. O PMDB esperava que, depois da posse de Lobão, no dia 21 de janeiro, todas as demais indicações fluíssem com mais facilidade. Não foi o que aconteceu. Lívio de Assis, indicado pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), continua tendo seu nome examinado pela Abin. E não há previsão de uma nova reunião do Conselho de Administração da Petrobras para analisar a indicação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras.