Título: Para Genro, oposição e imprensa criaram falso escândalo
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Política, p. A10

O ministro da Justiça, Tarso Genro, avalia que o caso dos cartões é um "falso escândalo", criado pela imprensa e apropriado pela oposição para minar o governo Lula num período de ausência de crises na política e na economia. "Este caso dos cartões rola como se fosse um rosário de ilegalidades, mas é um escândalo artificial."

Genro diz que mais de 80% dos ministros não possui este tipo de cartão e acredita que não houve má-fé em seu uso, inclusive pela ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que perdeu o cargo após as notícias de que gastou R$ 171,5 mil com aluguel de carros em 18 meses.

"Houve exagero com relação a Matilde. Acho que ela não estava bem informada", disse Genro. Para ele, a ministra deveria ter feito licitação para obter um serviço de aluguel de carros, já que este era um gasto regular de sua Pasta. O problema é que ela não foi informada sobre esta irregularidade. "Eu tenho convicção de que não houve dolo."

O ministro defende a aprovação de CPI para investigar o caso dos cartões corporativos, desde que não se limite ao período do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo. "Vamos ver quem controlou melhor os gastos nos últimos dez anos", desafia. Os cartões corporativos foram criados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2001.

Genro acha que o controle melhorou durante o governo Lula justamente por causa da transparência sobre o uso de cartões, agora reduzida pelo Palácio do Planalto. Os valores dos gastos foram descobertos por jornalistas na página da Internet da Controladoria-Geral da União.

Genro avalia que a CPI será aprovada porque a imprensa pautou o caso dos cartões junto à oposição que estaria "sem propostas para o país" neste momento. O ministro da Justiça raciocina que a oposição estaria frustrada porque há uma crise econômica nos Estados Unidos, com conseqüências para o resto do mundo e, neste cenário, "o Brasil mantém níveis de crescimento". "A política macroeconômica está dando certo e o país está estabilizado", aponta. "A oposição derrotou a prorrogação da CPMF para impedir um sucesso do governo Lula e, agora, fracassou nos diagnósticos de que não haveria investimentos."

Como a maioria dos ministros do governo, Genro não usa o cartão corporativo. Na Pasta da Justiça o cartão está vinculado a um funcionário do Departamento de Controle Interno. Só ele faz os gastos através do cartão. Recentemente, descobriu-se que foi efetuado um gasto de R$ 8,70 pelo cartão deste funcionário numa lanchonete no Guará, cidade satélite de Brasília. Mas, apuração posterior mostrou que não houve qualquer desvio, pois o rapaz foi roubado. Como era responsável pela segurança do cartão, cobriu o pequeno rombo pagando de seu próprio bolso.

Genro também foi questionado por um jornal de Porto Alegre, onde foi prefeito, sobre gastos de sua Pasta numa loja de enxovais. Só que as investigações revelaram que foram adquiridos pratos para o ministério e que não havia, portanto, qualquer irregularidade. É por causa de casos como estes, em que há explicações para os gastos, que o ministro da Justiça acredita que o caso dos cartões é um "falso escândalo".

Ontem, a direção do PT no Estado do Rio de Janeiro manifestou o desejo de fazer o substituto da ministra Matilde Ribeiro no comando da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a estratégia não deve passar pela sugestão de um nome, mas de uma "cesta". A única condição para fazer parte do grupo de possíveis substitutos é a ligação com o movimento negro. Entre os nomes que podem ser encaminhados pelo Rio de Janeiro estão os deputados federais Edson Santos e Carlos Santana e a ex-deputada Jurema Batista.

De acordo com o presidente do PT fluminense, Alberto Cantalice, todos os pleitos da executiva regional serão encaminhados para a diretoria nacional do partido comandado pela ex-ministro Ricardo Berzoini. "Achamos que o nome deveria ter alguma vinculação com a luta contra o racismo e que poderia ser alguém do Rio, que está subrepresentado no governo", ponderou Cantalice. (Colaborou Rafael Rosas, do Valor Online, do Rio)