Título: BNDES não vê riscos na compra da Xstrata
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Empresas, p. B7

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que é possível compatibilizar o interesse nacional com a compra da Xstrata pela Vale. Em entrevista na sede da instituição, Coutinho destacou que "a preocupação do governo é assegurar o controle perene da Vale pelo Brasil e que o fluxo de investimentos no país em mineração e não só em minério de ferro, mas nas outras cadeias minerais, seja mantido e até reforçado por esta operação". Ele informou que já expôs as preocupações do governo à Vale e que não vê problemas para que elas sejam atendidas. "E isso está em discussão", afirmou.

Mas, Coutinho não sabe ainda quando o governo e o conselho da Valepar, que concentra os acionistas controladores, vão aprovar a operação. Mas informou que os entendimentos aceleraram. "As tratativas foram precipitadas com a entrada forte dos chineses na jogada", disse, referindo-se à compra na semana passada de 12% da Rio Tinto pela Chinalco, estatal de alumínio da China. "Os chineses compraram um pedaço grande da Rio Tinto e isso dificultou o negócio da BHP e complicou a fusão". Para o presidente do BNDES, "a estratégia chinesa é muito clara; é provavelmente de bloquear a concentração no setor, porque olha essas fontes de matérias-primas como algo importante para assegurar preços mais baixos". "A estratégia chinesa é diferente e isso mudou um pouco o quadro. Isso tem uma velocidade de negócio que não está na nossa alçada", reconheceu.

O temor de que os chineses se metam na negociação entre a Vale e a Xstrata, como insinuou, pode acelerar as conversas. "Cumpridas as condições de salvaguarda do interesse nacional, que é o que compete ao governo, esta é uma operação, se tiver consistência empresarial, que os acionistas vão examinar e vão aprovar ou não. Do ponto de vista do governo, o que interessa é assegurar o interesse nacional. O BNDES fez sua análise e as condições foram comunicadas à empresa (Vale); não vejo problemas para que elas sejam atendidas".

Coutinho ressaltou que a preocupação do governo com a operação é "assegurar o controle perene de brasileiros e do Brasil sobre a Vale". Ele relatou que existem desenhos diferentes para a modelagem da operação. "Pelas características preliminares que vimos (da operação, à qual o banco teve acesso) é perfeitamente compatível com a preocupação do governo, que é absolutamente correta e legítima". Para ele, "é possível compatibilizar as preocupações do governo com o desenho da operação". Disse que já expôs isso à Vale. Para o presidente do BNDES, a operação não representa risco de perda de controle da Vale pelo capital nacional e é possível reforçar os investimentos da companhia no Brasil, inclusive investimentos em áreas conexas como siderurgia.

Para analistas de mineração consultados pelo Valor, as afirmações do presidente do BNDES deixam entrever que a operação de aquisição da Xstrata pela Vale já está praticamente fechada. É só uma questão de o governo e o conselho da Valepar darem o parecer final do negócio. O que não deve demorar, levando em conta os riscos da ameaça de intervenção estratégica chinesa.

Segundo o Valor levantou, os temores do governo com esta operação de aquisição internacional foram alimentados por informações que circularam no mercado de que a controladora da Xstrata, a trading suiça Glencore International, teria exigido um assento no conselho da Valepar para vender suas ações (35% do capital da anglo-suiça) à Vale.

No conselho da Valepar estão Previ, BNDES, Bradespar e Mitsui. Para abrir espaço para a trading suiça uma solução seria a Previ vender um excedente de sua participação no bloco de controle transformada em ações preferenciais, que seriam convertidas imediatamente em ordinárias. Isto daria a Glencore uma fatia de cerca de uns 5% na Valepar.

Outro temor do Planalto era a Vale aproveitar o negócio e, ao invés de incorporara a Xstrata a ela, vir a abrir uma nova empresa de metais (com seus ativos de cobre, níquel e zinco e carvão) com sede na Suíça para não elevar sua dívida. A sugestão foi dada pela Merrill Lynch, conforme relatório do banco americano, que até semana passada era seu assessor no negócio.