Título: Estudo vê bancos ainda expostos no subprime
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Finanças, p. C1

A crise das seguradoras de títulos de crédito dos EUA Ambace MBIA, além de representar um risco para um mercado avaliado em mais de US$ 2 trilhões em empréstimos garantidos por elas, pode significar também um novo baque no balanço de grandes bancos envolvidos com operações de hipotecas subprime.

De acordo com dados divulgados pelo Citigroup referentes ao final de 2007, a exposição líquida do banco a títulos ligados ao segmento de subprime (CDOs) ainda é de US$ 29,3 bilhões (sem considerar empréstimos diretos deste segmento, no montante extra de US$ 8 bilhões). No entanto, esse valor é o resultado de uma exposição bruta de US$ 39,8 bilhões, descontada de um hedge (proteção) de US$ 10,5 bilhões do total da carteira.

Da mesma forma, o Merrill Lynch informa ter uma exposição líquida de US$ 6,8 bilhões em CDOs e ativos relacionados (sem contar mais US$ 2,7 bilhões em empréstimos diretos). No entanto, tal volume é decorrente do desconto de US$ 23,6 bilhões de hedge, em relação à exposição bruta total de US$ 30,4 bilhões ao final de dezembro.

O problema é que boa parte deste hedge dos bancos foi feito com a compra de Credit Default Swaps (CDSs), que são uma espécie de seguro de crédito, destas empresas que agora apresentam problemas financeiros (Ambac e MBIA). O Citi não detalha a origem dos hedges na sua apresentação de balanço, mas o Merrill Lynch deixa claro que são operações feitas com garantidores financeiros "monoline" (que operam com uma só linha), seguradoras e outros participantes de mercado.

Ou seja, eles consideram, no balanço, que boa parte do eventual prejuízo de US$ 34,1 bilhões (soma das posições em hedge) estaria protegido pelas seguradoras.

Se essas empresas tiverem dificuldades financeiras, os montantes voltariam a estar diretamente ligados aos bancos, que teriam de fazer depreciações adicionais no valor desses ativos, causando mais prejuízos contábeis para estes bancos.

No último trimestre do ano passado, Citi e Merrill Lynch tiveram prejuízo de US$ 9,8 bilhões cada um devido ao reconhecimento de perdas com CDOs e outros ativos ligados ao segmento de crédito subprime.

Mesmo que as seguradoras não quebrem, se elas tiverem seus ratings rebaixados do nível atual de AAA (o mais elevado), os bancos possivelmente terão de considerar que tal hedge não é mais 100% garantido, gerando redução no valor dos ativos.

Ontem, a MBIA divulgou que fechou o quatro trimestre de 2007 com um prejuízo de US$ 2,3 bilhões. Um ano antes, havia ganhado US$ 181 milhões. Em 2007 completo, a empresa perdeu US$ 1,9 bilhão. As perdas estão relacionadas basicamente à diminuição no valor dos CDOs em seu portfólio segurado.

Ao mesmo tempo, a MBIA disse que concluiu a venda de US$ 500 milhões em ações para o investidor de private equity Warburg Pincus, parte de um acordo anunciado no início deste mês, que contempla ainda que dois diretores administrativos da instituição terão assentos no Conselho de Diretores da seguradora. A companhia acrescentou que está estudando outras formas de aumentar seu capital.