Título: Mais aquisições e menos ofertas em 2008
Autor: Valenti, Graziella ; Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2008, Empresas, p. B3

Paulo Giandaia / Valor Denise Pavarina, do Bradesco: ano será de preparação para bolsa, com menos euforia e mais fusões e aquisições. Com mais de R$ 40 bilhões no bolso, captados por meio de ofertas primárias de ações em 2007, as companhias abertas prometem um novo recorde para 2008. Porém, desta vez o novo feito não deve se verificar nos lançamentos de ações e sim no mercado de fusões e aquisições. Novas e velhas empresas da Bovespa levantaram dinheiro no ano passado e nos anteriores visando expandir seus negócios. E boa parte desse dinheiro será usado, justamente, para comprar a concorrência.

Acompanhamento feito pela Broadspan Capital, instituição especializada em assessorar negócios e preparar empresas para o mercado, mostra que fazer aquisições está entre os planos de quase todas as novatas da Bovespa. Praticamente todas as empresas que fizeram lançamentos de ações se comprometeram a usar, pelo menos, 25% do que obtiveram na bolsa para compras. Há casos em que esse porcentual chega a de 80%.

De acordo com um outro levantamento, da KPMG, foi registrado o volume recorde de 677 transações de fusões e aquisições conduzidas por empresas brasileiras no ano passado, quantidade 43% maior do que o recorde de 2006. O total de negócio vem crescendo ano a ano e, apesar da forte alta de 2007, a expectativa é que 2008 possa trazer nova marca histórica.

"O caixa captado pelas empresas na bolsa nos últimos anos deve continuar fornecendo oxigênio para as transações. As condições estão todas colocadas", afirma Cláudio Ramos, sócio de finanças corporativas da KPMG. Ele apenas chama atenção para o risco de um cenário negativo neste ano, caso se intensifiquem os problemas no mercado de crédito internacional. Ainda assim, destaca: "A atividade, no mínimo, continuará muito forte".

Fabio Nazari, diretor do UBS Pactual, também aposta num ano quente para os negócios entre companhias. "É esperado um movimento de consolidação maior, em função do nível de capitalização das empresas e também do fato de o mercado de ações não estar tão aberto para novas histórias como esteve em 2007. As próprias companhias serão fontes de recursos para outras companhias."

Além disso, até o momento, o que se sabe de 2008 é que será marcado por uma maior seletividade do investidor, o que trará um movimento natural de depuração das estreantes na Bovespa. Esse cenário também favorece as transações entre empresas, pois ajuda a estabelecer quem são os consolidadores e os consolidados, ou seja, quem comprará e quem será comprado.

O menor apetite por empresas novas poderá reduzir a quantidade de empresas abrindo capital na Bovespa. José Olympio Pereira, diretor do Credit Suisse, enfatiza que o investidor quer, cada vez mais, operações maiores, que garantam liquidez para negociações diárias em bolsa.

Até pela exigência de colocações maiores para aqueles que quiserem ir à Bovespa, é de se esperar uma intensificação do movimento consolidação setorial. As empresas buscarão alcançar um porte adequado ao apetite do investidor. "Será um ano de preparação. Mais pé no chão", aposta Denise Pavarina, diretora da área de mercado de capitais do Bradesco. Além do aumento de tamanho, a executiva explica que é essencial a todos os negócios a busca por escala. Maiores, as empresas também conseguem mais eficiência e margens melhores para mostrar aos potenciais novos acionistas.

"Há diversos setores em processo de consolidação e isso vai continuar em 2008. É natural. Existem mais de 100 novas empresas na bolsa", diz Olympio Pereira, referindo-se às novatas acumuladas desde 2004. Além disso, ele aponta o fato de as ofertas primárias de 2007 terem sido significativamente maiores do que as secundárias. Ou seja, as empresas captaram mais dinheiro para seus negócios do que seus sócios venderam parte do patrimônio. Nos últimos quatro anos, as empresas levantaram R$ 67 bilhões na Bovespa. Desse volume, mais de 60% foi obtido só no ano passado.

Alguns setores iniciaram já em 2007 a consolidação a que se propunham e outros ainda têm muito a fazer. Os segmentos de shopping centers, de educação e saúde estão entre os mais ativos em fusões e aquisições. Para este ano, espera-se forte atividade entre as companhias do ramo imobiliário a continuação da atividade entre os shoppings, repetindo o destaque desses segmentos no ano passado.

Ramos, da KPMG, destaca os efeitos positivos da consolidação para o fortalecimento do setor privado nacional. "Além de eliminar redundâncias operacionais e ganhar escala, as companhias aumentam seu poder de barganha com os fornecedores e ampliam sua competitividade diante dos concorrentes internacionais."

No ano de 2007, a atividade de fusões e aquisições foi especialmente forte. Mas existe espaço para aumento em 2008. O sócio da KPMG explica que muitos setores nacionais, quando comparados aos pares internacionais, mostram-se excessivamente pulverizados. "Ainda há muito por fazer."

Os executivos da Broadspan lembram ainda que os setores nos quais há maior pulverização, ou seja, maior número de empresas, são os naturalmente mais suscetíveis à consolidação. Também são vulneráveis aqueles que sofrem mudança de tecnologias e processos em determinado negócio.

Na avaliação da Broadspan, incorporar concorrentes geralmente é essencial para entregar metas prometidas aos investidores. Isso porque, numa economia com a taxa de crescimento do Brasil, para cumprir a tarefa de chegar aos 15% ou 20% de expansão do negócio não é uma tarefa fácil somente com o avanço orgânico.

Daí a necessidade das aquisições. A movimentação do ano passado fez com que algumas empresas voltassem a recorrer a bolsa para se financiar. Entre essas estão a BrMalls e a PDG Realty, que gastaram tudo o que levantaram e retornam ao mercado para buscar mais dinheiro. Na quinta-feira, a GP Investments também passou a integrar essa lista. A companhia quer mais recursos para novos projetos neste ano. E mais de 20 companhias que já tinham iniciado o processo para abrir capital, tendo submetido suas operações ao crivo da CVM, preferiram deixar as operações para este ano. Por conta disso, há uma expectativa para ver quantas dessas vão de fato se concretizar, o que ainda pode injetar mais dinheiro nessas empresas, que também têm entre seus objetivos ir às compras.

Mas não é só o caixa gordo que favorece as operações de fusão e aquisição. Para se tornar aberta, a companhia geralmente passa por um processo de melhoria de governança e da estrutura de capital, o que favorece transações mais sofisticadas, que podem incluir a troca de ações, por exemplo.

Nesse cenário, também ficam favorecidas as chamadas transações "cross border" - que envolvem uma empresa nacional e outra estrangeira. Na avaliação da Broadspan, o investidor estrangeiro tem buscado segmentos nos quais o Brasil tem alta competitividade a longo prazo. Nesse perfil poderiam se incluir os de papel e celulose, de energias alternativas e limpas e o ramo imobiliário.

Ramos, da KPMG, destaca, por fim, que além dos negócios entre empresas, há também os fundos de participações, os "private equities". Diversos grupos estrangeiros começaram a se estruturar para atuar no ano país no ano passado. Exemplo disso, é o gigante Carlyle.