Título: BCE mantém juro em 4%, mas vê riscos à economia
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Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Finanças, p. C4

Hannelore Foerster / Bloomberg News Jean-Claude Trichet, presidente do BCE: "As atuais pressões de curto prazo não podem se tornar de médio prazo" O Banco Central Europeu (BCE) manteve ontem a taxa básica de juros da União Européia (UE) em 4%, no patamar mais alto em seis anos. A prioridade dos responsáveis pela política monetária da zona do euro foi a contenção da inflação e não o fortalecimento da economia.

A inflação nas 15 nações que compartilham o euro atingiu em janeiro o ponto mais alto em 14 anos, ultrapassando pelo quinto mês consecutivo o limite de 2% fixado pelo BCE, chegando a 3,2%. Os investidores prevêem que a desaceleração da economia forçará o BCE a seguir o exemplo do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) e do Banco da Inglaterra (o BC do Reino Unido) e reduzir os juros.

O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, sinalizou que os riscos ao crescimento econômico da zona do euro estão aumentando, levando os investidores a elevarem suas apostas de cortes nos juros. "À medida que a reavaliação do risco nos mercados financeiros continua, permanece um nível extraordinariamente alto de incerteza relativa a seu impacto geral sobre a economia real", disse Trichet.

"A inflação continua a ser a preocupação prioritária do BCE", disse Klaus Baader, economista-chefe para a Europa da Merrill Lynch, de Londres. "Trichet sem dúvida vai admitir que o cenário do crescimento econômico está se deteriorando, mas será preciso que ele se agrave para que o BCE reduza os juros."

O presidente do BCE afirmou que "a firme ancoragem das expectativas de inflação no médio e longo prazos é a principal prioridade do conselho diretor, refletindo seu mandato". E destacou a importância de conduzir a inflação para patamares abaixo de 2%.

Segundo Trichet, "as atuais pressões de curto prazo não podem se tornar de médio prazo. O conselho diretor continua comprometido em evitar efeitos (inflacionários) de segundo turno e a materialização de riscos à estabilidade dos preços no médio prazo." Trichet admitiu, porém, que as turbulências nos mercados financeiros podem afetar a zona do euro.

Em Washington, o Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou "adequada" a decisão do BCE, segundo o seu porta-voz Masood Ahmed. "Enquanto o crescimento diminui, a inflação surpreendeu e aumentou" em janeiro na zona euro, assinalou Ahmed. "Apesar de esperarmos que a inflação diminua, a médio prazo, de acordo com o objetivo do BCE, acreditamos que o BCE deva manter as taxas inalteradas neste momento."

O BCE tem alertado diversas vezes sobre os riscos de um segundo turno de efeitos inflacionários, principalmente de trabalhadores que pedem aumentos salariais para compensar os aumentos dos custos energéticos e de alimentos.

Axel Weber, do conselho do BCE, descartou em 24 de janeiro a aposta dos investidores em uma redução dos custos dos empréstimos como "auto-engano", acrescentando que "temos um cenário econômico positivo e, enquanto isso não mudar, eu diria que os juros ainda estão em patamares confortáveis", ou seja, que sustentam o crescimento.

Os investidores estão aumentando as apostas de que o BCE terá que reduzir os juros pelo menos duas vezes neste ano. A taxa implícita nos contratos futuros da Euribor com vencimento em dezembro estava ontem em 3,49%, a mais baixa em dois anos. Em 27 de dezembro o juro implícito era de 4,36%. O FMI reduziu na semana passada a sua previsão de crescimento para a zona do euro em meio ponto percentual, para 1,6%.

"O BCE está diante de um grave dilema", disse Gilles Moec, economista do Bank of America em Londres. "De todos os fatores que atrasam o crescimento neste momento, a inflação é realmente a mais danosa, afetando os gastos do consumidor." Os gastos do consumidor representam mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro.

A inflação nos 15 países da região acelerou para 3,2% em janeiro. Em dezembro, o BCE previu que a alta dos preços será em média de cerca de 2,5% este ano, depois dos 2,1% em 2007. Com isso, 2008 seria o nono ano consecutivo em que o BC não consegue atingir a meta de manter a inflação um pouco abaixo dos 2%.