Título: Importação pode anular ganho com o minério
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Brasil, p. A3

O aumento das importações pode anular os efeitos benéficos do reajuste do preço do minério de ferro para o saldo da balança comercial brasileira. Analistas projetam US$ 2 bilhões a mais de exportações em relação às previsões iniciais, mas relutam em alterar a estimativa para o saldo porque avaliam que o ritmo das importações pode surpreender. As estimativas seguem apontando para superávit de no máximo US$ 30 bilhões este ano, 25% inferior a 2007.

Em negociação com clientes, a Vale do Rio Doce obteve reajuste de 65% em média para o minério de ferro, o que significa de US$ 9 bilhões a US$ 10 bilhões a mais em exportações para a empresa ao longo de 12 meses. O impacto para a balança comercial em 2008, no entanto, será bem menor.

Os economistas já previam um bom reajuste para o minério este ano, embora menos vigoroso que o alcançado. As estimativas também já levavam em conta um aumento de 10% da produção brasileira. Outro dado importante é que o novo patamar de preços só começará a vigorar a partir de abril, não impactando, portanto, as exportações do primeiro trimestre.

O embargo da União Européia à carne bovina não deve ter efeito significativo, na avaliação dos especialistas ouvidos pelo Valor. Os cálculos apontam para perdas de no máximo US$ 1 bilhão, mas a expectativa geral é que as vendas sejam normalizadas em breve.

Fernando Rocha, economista da JGP Gestão de Recursos - que projetava 40% de aumento para o minério - calcula que o forte reajuste obtido pela Vale significará US$ 2 bilhões a mais para a balança este ano. Mesmo assim, ele prefere manter por hora a previsão de US$ 25 bilhões de saldo.

"As importações têm sido muito fortes. Pode ser que compense esse ajuste do minério", diz Rocha. No acumulado de janeiro até a terceira semana de fevereiro, as importações brasileiras subiram 42% na média por dia útil em relação a igual período do ano passado. É um ritmo superior a alta de 32% em 2007 em relação a 2006, e ajudou a derrubar o saldo em mais de 50% em relação ao início de 2007.

Para o departamento econômico do Bradesco, a atividade econômica está forte neste início de ano, o que mantém as importações aquecidas. As empresas aproveitam para recompor estoques de produtos e componentes importados, além de investir na ampliação da capacidade para fazer frente à demanda prevista para 2008. Devido ao desempenho das importações, a instituição revisou recentemente sua estimativa para o saldo da balança de US$ 32 bilhões para US$ 30 bilhões. O banco projeta R$ 2,3 bilhões a mais de vendas externas por conta do novo preço do minério de ferro e até admite nova revisão do saldo (desta vez para cima), mas também prefere aguardar a evolução das importações.

O Unibanco estima o saldo da balança comercial brasileira em US$ 28,8 bilhões em 2008. Segundo o economista sênior Darwin Dib, a estimativa considera queda de 6% nos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Ele avalia que o reajuste do preço do minério de ferro, embora expressivo, não é suficiente para mudar a projeção. "Seria necessário algo mais forte, envolvendo outras commodities".

A LCA Consultores é mais otimista. O economista Chau Kuo Hue estima o saldo em US$ 30 bilhões em 2008, mas já admite revisão para cima, atingindo até US$ 35 bilhões. A consultoria previa alta média de 25% do preço do minério de ferro em 2008 em relação a 2007. Portanto, prevê que o patamar obtido pela Vale pode significar US$ 7 bilhões a mais em exportações este ano.

"Os preços dos básicos vão surpreender, como minério de ferro, soja, café e até açúcar", diz Hue. "Por outro lado, a cotação de minérios importados pelo Brasil, como o cobre, que é insumo para a construção civil também deve subir, puxando as importações."