Título: Gasoduto e chuvas podem ajudar a desligar térmicas
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Brasil, p. A5

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, a uma estação reguladora de pressão do gasoduto Cabiúnas-Vitória evidencia a importância dessa obra, inaugurada no dia 1º deste mês, para aliviar a tensão no governo com a escassez de energia elétrica. Com 303 quilômetros de extensão, a obra está assegurando gás natural para girar as máquinas das grandes termelétricas do Rio de Janeiro e pode permitir que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), na sua reunião da próxima sexta-feira, autorize o desligamento de algumas térmicas a diesel acionadas emergencialmente em dezembro, na região Nordeste.

O acionamento dessas usinas, que produzem a mais cara energia do sistema, foi determinado no final do ano passado pelo mesmo CMSE, dada a evolução perigosa da curva de nível dos reservatórios das hidrelétricas, que geram a energia mais barata, tanto no Nordeste como no Sudeste. As chuvas de verão eram poucas. Na segunda quinzena de janeiro, elas finalmente chegaram, especialmente no Sudeste. Embora ainda falte chover muito para trazer tranqüilidade no restante do ano, os níveis dos principais reservatórios do país subiram acima dos pontos críticos da chamada curva de aversão ao risco.

Nesta conjuntura, a Petrobras antecipou em quatro meses, em relação ao que estava previsto no Termo de Compromisso que assinou com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a entrada em operação do gasoduto que leva até 5,5 milhões de metros cúbicos de gás do Espírito Santo para o Rio de Janeiro, Estado que, mesmo liderando a produção de gás do país, com 20,7 milhões de metros cúbicos diários, tem pouco gás para girar suas térmicas. Segundo a Petrobras, o gás capixaba vai permitir que até o final deste mês as térmicas fluminenses Mário Lago (Macaé), Governador Leonel Brizola (Duque de Caxias) e Barbosa Lima Sobrinho (Seropédica) gerem 1.000 megawatts adicionais.

Segundo o Valor apurou, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), principal voz técnica nas reuniões do CMSE, segue considerando fundamental para o equilíbrio do sistema, com vistas ao abastecimento em 2009, que as térmicas permaneçam gerando energia em todo o país, mas admite que algumas unidades mais caras possam ser desligadas já, desonerando o consumidor. As térmicas a óleo nordestinas estão gerando cerca de 600 megawatts. A diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, defende, como medida de prudência, que essas térmicas permaneçam gerando o máximo possível. "Quanto mais tempo tudo isso ficar ligado, será melhor para a sociedade", afirmou.

Segundo dados do ONS de anteontem, os níveis dos reservatórios das principais hidrelétricas estão a 60,99% no Sudeste, 55,09% no Sul, 42,70% no Nordeste e 39,15% no Norte. Embora as chuvas no Nordeste permaneçam escassas, o reservatório de Sobradinho (BA), que armazena cerca de 60% da energia hídrica da região, subiu de menos de 13% no começo de dezembro passado para os 32,29% atuais graças à geração térmica e a transferências maciças de energia do Norte e do Sudeste.

Atualmente, 55% da energia consumida no Nordeste vêm dessas transferências. As turbinas de Tucuruí, no Pará, estão a todo vapor. Ainda assim, a expectativa é de que os quase 16 milhões de metros cúbicos por segundo que o rio Tocantins está despejando no reservatório irão provocar o vertimento de água pela barragem até o fim das chuvas, como ocorre regularmente.

Em Sobradinho, tem sido feito exatamente o contrário. De uma afluência de 3.610 metros cúbicos por segundo, estão passando rio abaixo apenas 1.119 metros cúbicos por segundo, quantidade inferior ao mínimo necessário (1.300 metros cúbicos por segundo) para os múltiplos aproveitamentos das águas do São Francisco na região.

O gasoduto Cabiúnas-Vitória é a segunda parte do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), da Petrobras, previsto para entrar em operação em 2010. Em toda a sua extensão, ligando Catu (BA) a Cabiúnas (RJ), na região de Macaé, terá 1.384 quilômetros de extensão. Já estava pronto um trecho de 131 quilômetros ligando Cacimbas (ES), na região produtora de gás, a Vitória.

Com a conclusão do segundo trecho, falta o de maior extensão, Cacimbas-Catu, com 950 quilômetros. Como em 2010 o Espírito Santo deverá estar produzindo 18,7 milhões de metros cúbicos por dia, a conexão é essencial, entre outras coisas, para garantir maior fluxo de energia para o Nordeste.