Título: Apagão segue sem explicação
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2011, Economia, p. 15

Ao enfrentar o seu primeiro apagão, o governo Dilma Rousseff dá sinais de morosidade ao tentar explicar as causas do blecaute que deixou oito estados do Nordeste no escuro na semana passada. Ontem, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, informou apenas que o problema ocorreu devido a uma falha técnica em um mecanismo de proteção (cartão) da subestação Luiz Gonzaga, em Jatobá, no estado de Pernambuco, onde há um entroncamento de seis circuitos de transmissão. Mas reiterou que as causas da pane, responsável por deixar mais de 46 milhões de pessoas sem luz, ainda estão sob investigação ¿ e não há prazo para o trabalho ser concluído.

Zimmermman buscou defender o governo, alegando que não houve falta de manutenção do sistema mantido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), dona da subestação. ¿A manutenção estava rigorosamente em dia. A última foi feita em outubro de 2010, como o previsto. O que ocorreu foi um defeito no cartão de proteção do sistema¿, disse o secretário. Segundo ele, a programação preventiva da manutenção desse tipo de sistema era de quatro em quatro anos e ela foi realizada como o esperado. ¿Não é verdade o que andaram afirmando sobre a falta de manutenção no sistema¿, afirmou, numa reação às críticas sobre o apagão.

Técnicos do ministério foram ao local para descobrir as causas do corte de energia que provocou forte descontentamento na presidente da República ¿ oriunda do setor elétrico, Dilma mandou, inclusive, reforçar a fiscalização do sistema. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), juntamente com técnicos da Chesf, está preparando um relatório sobre a problema para análise da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão que fiscaliza o setor.

Ineditismo Na opinião de Zimmermann, a falha no mecanismo, ou cartão de proteção ¿ como diz ¿, é que desencadeou o desligamento em cadeia das estações de abastecimento no Nordeste na última sexta-feira. O secretário admitiu que o apagão foi resultado de um alarme falso que resultou no desligamento automático do sistema de transmissão de energia. No entanto, evitou explicar como é o funcionamento do equipamento. ¿Estamos, agora, analisando os relatórios para descobrir qual foi o motivo dessa falha, pois ela é inédita. Esse cartão nunca apresentou problema¿, afirmou.

Ontem, além do secretário executivo do MME, todas as autoridades que formam a cúpula do setor elétrico brasileiro se reuniram para discutir as causas do apagão. Mas, ao que parece, a reunião foi infrutífera, apesar da presença do ministro Edison Lobão, e dos presidentes do ONS, Hermes Chipp, e da da Chesf, Dilton da Conti Oliveira. Zimmermann descartou que a causa da pane no Nordeste foi decorrente de uma sobrecarga no sistema, diagnóstico reforçado por Oliveira ratificou: ¿O sistema operava com folga¿. A seu ver, a rede tinha capacidade para pouco mais de 10 mil megawatts (MW) e recebeu cerca de 8 mil MW no dia da pane.

Ontem, a Aneel participou da reunião no Rio de Janeiro para apresentar um diagnóstico sobre o apagão no Nordeste. Após a conclusão das causas do incidente, a agência deverá se manifestar com as devidas punições aos operadores responsáveis. Na região do blecaute, os seus efeitos ainda são sentidos. Devido à pane elétrica, a produção em 45 das 90 empresas do Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, ainda não foi totalmente restabelecida.

Ato contra Belo Monte As manifestações contra a megausina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, continuam. Um abaixo-assinado que recebeu mais de 500 mil pedidos para interromper a construção da hidrelétrica deverá ser entregue, hoje, à Presidência da República pela organização não governamental Avaaz e pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre. Pelos cálculos dos organizadores, o ato de entrega do documento contará com cerca de 150 ribeirinhos e indígenas das etnias Kayapó, Juruna, Arara e Xipaya de Altamira, do sul do Pará e de Mato Grosso, além de cerca de 50 componentes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e dezenas de lideranças sociais e militantes ambientalistas.

Intervenção na Eletrobras

Depois de muita confusão nos bastidores, com uma guerra fratricida entre os partidos da base aliada por cargos na empresas do setor elétrico, o governo anunciou ontem José da Costa Carvalho Neto para a presidência da Eletrobras. Costa é oriundo da Cemig, estatal de energia controlada pelo governo de Minas Gerais. Depois de Furnas, foi a segunda estatal em que a presidente Dilma Rousseff decidiu intervir. Foi mais um sinal de que ela não se curvará ao PMDB, que pleiteava o cargo.

¿Ele foi convidado pela presidente Dilma Rousseff e por mim e deverá assumir o comando da estatal dentro de 15 dias¿, anunciou Edison Lobão, ministro da Minas e Energia. Para tentar minimizar o impacto político da nomeação de Costa, Lobão procurou destacar a experiência do engenheiro eletricista, que também foi secretário adjunto do governo de Minas. ¿É um nome com muita expressão no setor e que terá a incumbência de continuar as obras que estão sendo tocadas desde 2008, além de fortalecer as operações da Eletrobras no Brasil e no exterior.¿

A escolha de Costa segue a linha das últimas designações técnicas de Dilma. Na semana passada, ela escolheu o técnico Flávio Decat para presidir Furnas. Antes, ele dirigiu a Eletronuclear e foi diretor da Eletrobras. Ao anunciar Decat para Furnas na véspera do apagão do Nordeste, Lobão negou haver pressões do partido nas nomeações. O ministro sinalizou que o atual presidente da estatal, José Antonio Muniz Lopes ¿ próximo ao senador José Sarney ¿, poderá ir para a Eletronorte. ¿A possibilidade está sendo avaliada¿, afirmou. (RH)

Petrobras desiste A Petrobras confirmou a ruptura das negociações com a Eni para a compra da parte do grupo italiano na empresa portuguesa Galp Energia, em um comunicado enviado à autoridade portuguesa de mercados financeiros. ¿Não conseguimos encontrar um acordo sobre os elementos essenciais de uma possível transação¿, reforçou o diretor-geral da Eni, Paolo Scaroni.