Título: Pomar critica secretário-geral petista e reacende briga interna
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Política, p. A8

Apenas dez dias depois da eleição da nova executiva do PT, com a indicação de José Eduardo Cardozo (PT-SP) para secretário-geral do partido, o novo dirigente petista foi criticado com veemência pelo secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar. Em nota divulgada a toda militância petista, Pomar, que integra a esquerda do PT, afirma que não gostou de uma entrevista concedida por Cardozo à "Veja" e acusa seu companheiro de partido de não ter sido veemente na defesa do atual presidente da legenda, Ricardo Berzoini, na manutenção da tese de que não houve mensalão do PT e no fato de o governo assegurar maior transparência ao criar o sistema de cartões corporativos em substituição às regras do governo FHC.

Cardozo não fugiu da polêmica, afirmando que todos têm o direito de expor as observações que considerar pertinentes. Mas desaprovou a nota divulgada por Pomar. "Não é hora de termos um debate público entre dirigentes. Esses pontos de vista devem ser debatidos internamente, nas instâncias partidárias", defendeu. Disse que não defendeu explicitamente a existência do mensalão como compra de votos de parlamentares em troca de apoio e acrescenta que a revista omitiu o termo "injusto" sobre as acusações contra Berzoini.

Pomar não poupou palavras duras contra o integrante do grupo Mensagem ao Partido. "Espero que a revista tenha distorcido tuas declarações, hipótese na qual sugiro que você envie imediatamente uma mensagem ao Partido, esclarecendo tudo", afirmou, em nota distribuída a diversos militantes do partido. Para o secretário de relações internacionais, Cardozo não foi incisivo em diversas respostas. "Lendo a entrevista como um todo, é visível que 'Veja' faz perguntas provocativas, explorando o fato de que você foi eleito secretário-geral graças ao apoio da chapa "Construindo um Novo Brasil", muito criticada por você durante o PED 2007", criticou Pomar.

Pomar reconheceu ser muito difícil escapar das provocações da imprensa, mas foi direto na conclusão: "Feita esta ressalva, é preciso dizer que as respostas publicadas por 'Veja' são ruins para o Partido", resumiu. Para Pomar, se houve "mensalão", se houve uma operação sistemática de "compra" de parlamentares para garantir vitórias do governo em votações do Congresso, então houve um crime que poderia justificar uma tentativa de impedimento do presidente da República. "Por isso, negar a existência do 'mensalão' não é um preciosismo retórico, literário, 'semântico'", concluiu.

Cardozo defendeu-se, alegando que esse foi um dos pontos da entrevista que ele contesta parcialmente. O secretário-geral assegura que não defendeu explicitamente a existência do mensalão. "Sobre o mensalão, repeti o que sempre venho dizendo: houve um mecanismo de transferência irregular de recursos. Classificar se isso era caixa 2 ou compra de votos é uma questão de pura semântica". rebateu.

Outra queixa de Pomar é que Cardozo não defendeu Berzoini quando indagado se o PT estava sendo governado por um aloprado (referência ao então presidente do PT e coordenador da campanha à época da compra do dossiê Vedoin). Em relação a Berzoini "aloprado", Cardozo afirmou ter classificado esse adjetivo como injusto, já que "nada foi provado contra o atual presidente do PT".

Sobre as demais críticas feitas pelo secretário de relações internacionais, que versam ainda sobre a sucessão à prefeitura de São Paulo e a política de alianças que o PT precisa fazer em 2010, definindo que o partido tem de ter candidato próprio para disputar a sucessão de Lula, Cardozo limitou-se a dizer que se está diante "de visões diferentes da mesma situação. Respeito as opiniões do Pomar, o que não quer dizer que não possa expor minhas opiniões com absoluta tranqüilidade", concluiu.

Procurado pelo Valor, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, afirmou, por intermédio de sua assessoria, que não iria se pronunciar, nem sobre a entrevista de Cardozo, nem sobre a carta de Walter Pomar. (PTL)