Título: PT diverge de Dilma na disputa por cargos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Política, p. A8

A bancada do PT explicitou, na noite de segunda-feira, durante jantar com o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, sua insatisfação com a demora do governo em definir os cargos federais e mostrou resistência a entregar cargos a outros partidos aliados do governo. A bancada queixou-se também da falta de atenção e da ausência de debate em relação aos assuntos que interessam ao Executivo. "Em diversos ministérios, comandados inclusive por petistas, existe uma perseguição ao partido, e isso não vamos aceitar", declarou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Um dos alvos da reclamação petista foi a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Os petistas afirmam que a bancada havia indicado Wagner Garcia para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Dilma conseguiu emplacar um assessor especial da Casa Civil, Bernardo Figueiredo. "A Dilma fica posando de ministra técnica, de gerente executiva, mas isso é coisa do passado. Ela nomeou esse diretor da ANTT, está se metendo nos cargos do setor elétrico. Para onde você virar, tem nomes indicados pela Dilma disputando cargos públicos", reclamou um petista.

A assessoria de imprensa da Casa Civil afirmou que a ministra não tem conhecimento dessas manifestações de contrariedade expressas no jantar da bancada. Mas, segundo assessores, "Dilma não vem participando do debate sobre cargos no governo, já que esse assunto não está inserido dentro de suas atribuições no Executivo".

A mágoa petista azedou o jantar. Um deputado presente ao encontro disse que a confusão começou quando os parlamentares reclamaram a Múcio sobre o impasse na Petrobras. O PMDB tenta emplacar o nome de Jorge Zelada para a diretoria internacional da estatal, mas Dilma tenta, ao lado do senador Delcídio Amaral (PT-MS), a manutenção do petista Nestor Cerveró. Quando as queixas da ANTT foram à tona, a situação só piorou.

"Existe um dogma de que o PT tem cargos demais no Executivo e que é preciso remover algumas pessoas, mesmo que sem razão, simplesmente pelo fato de serem ligadas ao partido", reclamou o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE). Rands acha normal a briga entre os aliados em busca de espaços no governo. "Temos uma base de sustentação complexa, é normal que todos queiram participar. Por outro lado, a administração pública brasileira é tudo, menos enxuta", apontou ele.

A demora do presidente Lula em definir os nomes do setor elétrico - parte dessa definição pode acontecer hoje, durante reunião do presidente com Múcio e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - também incomoda os petistas. "Eu vejo pessoas ligadas à negociação quase implorando ao presidente: arbitre, Lula, arbitre de uma vez, para agradar uns e desagradar outros. Mas não estique ainda mais a corda", afirmou um petista que acompanha os impasses.

O principal impasse continua sendo a presidência da Eletrobrás. Dilma apóia Flávio Decat e o senador José Sarney (PMDB-AP) quer José Antônio Muniz Lopes. "Dilma gosta de Decat, mas a pirraça maior é para evitar que José Antônio seja o vencedor", ironizou um pemedebista. (PTL)